Trajetória nos concursos - Danniel Adriano Araldi Martins

By | setembro 25, 2019 Leave a Comment


Trago hoje a trajetória do amigo Danniel (@danniel.adriano), juiz do TJSP. A jornada do Danniel reforça ainda mais a inexistência de receita pronta em concurso: nunca fez questões e também não abandonou a leitura de livros. O que é invariável nos aprovados é a dedicação séria. Diferentemente de um trabalho tradicional, no qual a pessoa cumpre sua jornada e, independente de seu desempenho, recebe mensalmente o seu dinheiro, o concurso é mais complexo: há abdicação financeira, o mero cumprir da jornada não significa que haverá recompensa e exige certa resiliência (pois frustrações e tropeços dolorosos ocorrerão, como houve com o Danniel diante da reprovação no TRF-2). Como bem disse o Danniel: "quanto antes você se levantar, mais horas de estudo terá e mais rápido será aprovado". Parabéns pela trajetória, Danniel!

Inicialmente, gostaria de agradecer ao meu amigo Júlio por esse honroso convite. O Júlio é um cara especial, seja por sua inteligência fora do comum, seja por sua humildade, gentileza e polidez.

Ao ser convidado para escrever sobre minha trajetória até a tão sonhada aprovação, vieram-me à cabeça muitas ideias e boas recordações. Apesar de todas as dificuldades enfrentadas, a escolha por prestar concursos de altíssimo nível de exigência, como é o da magistratura, foi uma grande fonte de aprendizado e amadurecimento para mim.

No meu relato, optei por focar em três pontos os quais julgo serem os mais relevantes e sobre os quais gostaria de ter ouvido quando iniciei minha jornada.

O primeiro ponto escolhido é o método de estudo. Comecei a preparação assistindo videoaulas e revisando os cadernos. Posteriormente, adicionei alguns livros voltados para concurso e sempre acompanhei a jurisprudência pelo Dizer o Direito. Nunca fiz questões, mas lia lei seca concomitantemente ao estudo dos cadernos e da doutrina.

Esse método inicial me deu resultados “positivos” de forma rápida logo nas primeiras provas que prestei. Fiquei próximo de ser aprovado em primeiras fases logo no começo da preparação, o que me deixou confiante com o método.

Contudo, após mais um período de estudos percebi que havia estagnado e que precisava de algo mais para avançar nos certames. Foi aí que identifiquei a necessidade de mudar o método. Passei a ler livros mais densos sobre cada matéria e, em muitas matérias, diversos livros. Por exemplo, em Direito Constitucional, estudei direitos fundamentais pelo Gilmar Mendes, controle de constitucionalidade pelo livro específico de Controle do Dirley da Cunha, teoria da Constituição pelo Daniel Sarmento etc.

Esse segundo método que adotei é bom ou é recomendável para concursos? Para 90% (noventa por cento) das pessoas, com certeza absoluta não. É só ver que a grande maioria dos aprovados sempre indica manter-se fiel a um único livro e revisar muitas vezes o mesmo material. Todavia, esse acabou sendo o método que melhor se adequou à minha realidade e com o qual fui notando efetivo progresso de rendimento nas provas.

O segundo ponto que gostaria de destacar da minha trajetória foi o incansável esforço nos estudos e as constantes retomadas. Se, em relação ao método, há uma grande margem de manobra, havendo peculiaridades de aprovado para aprovado, em relação à dedicação isso não acontece. É traço comum a absolutamente todos os aprovados em concursos as incontáveis horas de estudos, abdicações e superações.

É muito frequente a preocupação de quem está iniciando os estudos sobre a quantidade de horas líquidas que se deve estudar diariamente. Eu, particularmente, quando leio essa pergunta, penso que “essa pessoa ainda não entendeu como realmente funciona a preparação para concurso público”. Sem medo de ser incisivo aqui, só existe uma resposta para essa pergunta: “Todas as horas que você tiver disponíveis”. Se você tem duas horas, estude as duas horas. Se tem dez, estude as dez.

Durante a preparação, iniciei estudando de segunda a quinta, aumentando gradativamente até estudar todos os dias, de domingo a domingo, incluído feriados. Abri mão de diversos eventos, de tempo com meus amigos, com a família e com minha noiva. No último ano de estudo, deixei de estudar somente dois dias: 25 de Dezembro e 1º de Janeiro.

Em relação às reprovações – que ocorrerão! – tenho que quanto antes você as superar, melhor. Não adianta remoer. Também não adianta ficar durante um longo período sem estudar, como uma forma de autopiedade. Quanto antes você se levantar, mais horas de estudo terá e mais rápido será aprovado. Recordo-me de ter ficado por pouquíssimas questões na prova do TRF – 2ª Região, o que foi especialmente doloroso para mim. Cheguei em casa após o resultado negativo e fiquei aquele dia até duas da manhã planejando o próximo ciclo de estudos, até a próxima prova. No dia seguinte, mesmo triste com o resultado e cansado do dia anterior, estava de volta à rotina. Tenho para mim que essas horas a mais de estudo que consegui fazer naquela semana, em vez de simplesmente não estudar, foram fundamentais para o meu posterior sucesso.

Por fim, a caminhada é sobre livros, suor e lágrimas, mas também sobre amor. A minha não foi diferente. Contei com o apoio inabalável da minha querida mãe, que dedicou sua vida e sempre fez tudo por mim; da minha amada noiva, que viveu intensamente tudo comigo e que esteve ao meu lado suportando e me apoiando em todas as dificuldades; e, principalmente, de Deus. Todo agradecimento do mundo do mundo não seria suficiente para retribuir tudo o que vocês fizeram – e continuam fazendo – por mim.

São Josemaria Escrivá dizia que “para a grande maioria dos homens, ser santo significa santificar o seu trabalho, santificar-se no trabalho e santificar os outros com o trabalho”. Isso é especialmente verdade na preparação para as provas de concurso. Pode parecer pouco, mas se você escolheu esse caminho e essa é a sua realidade, cumprir seus planos de estudo, suas horas diárias e estudar com afinco e amor, entregando este tempo para Deus, é a melhor oração que você pode fazer.

No final da trajetória, quando já me preparava para a prova oral, passei a ir à missa todos os dias. Para mim era insuportável a ideia de perder quase que uma hora diária de estudos – fominha que estava eu com o tempo e o estudo. No entanto, naquele momento, já tinha a consciência de que não dependia só de mim. Aliás, nunca nada dependeu. Felizmente, com a graça dEle, veio a aprovação! Que dia! É nesse momento em que tudo vale a pena. Espero do fundo do coração que todos os concurseiros que tiveram a paciência de ler esse relato tenham forças para continuar e experimentem essa sensação.


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