Trajetória nos concursos - Makena Marchesi

By | abril 27, 2019 Leave a Comment


Trago hoje a trajetória da grande amiga Makena. Nós trabalhamos juntos na assessoria de Desembargador do TJES. Compartilhamos experiência e vivenciamos cada passo, reprovação e aprovação. Foi um período de grande crescimento mútuo. Makena é uma pessoa muito intensa em tudo. Mergulha profundamente em tudo o que faz: do mestrado - ao qual se dedicou com muito afinco e brilhantismo, tanto que tive o privilégio de acompanhar a defesa da dissertação - aos estudos para concursos. E, no meio disso tudo, não deixa de ter uma enorme habilidade de ajudar e acolher as pessoas. O relato evidencia isso tudo e como a jornada da Makena foi um período, como ela disse, de exercício de paciência e inteligência emocional. No final das contas, as barreiras que enfrentou eram muito mais psicológicas - de, por ex., querer fazer provas para ver o seu diagnóstico e reconhecer os pequenos progressos - do que técnicas, afinal, Makena já é conhecida no meio jurídico por sua técnica, didática e inteligência: já foi colunista de sites e escreve agora para o @canalveritas, que é um excelente projeto com dicas de conteúdo e estratégias para concursos. Tenho muito orgulho de você e de ser seu amigo! Obrigado por tudo, @makmarchesi!

Minha trajetória rumo aos concursos se iniciou pouco depois de concluir meu mestrado em direito processual civil. Poucas pessoas escolhem realizar o mestrado antes da aprovação na carreira desejada. Mas como eu comecei a trabalhar como analista judiciária logo após formar, não sentia necessidade de ingressar numa carreira jurídica naquele momento e decidi me proporcionar fazer algo que gostava.

De fato, em termos práticos, a pós-graduação stricto sensu não agrega no estudo para concursos, pois o objetivo é diferente, a forma de construção e cobrança do conhecimento também. Contudo, não faria diferente, na medida em que foi um período em que amadureci profissionalmente, conheci o magistério, algo que me encanta, e optei pela advocacia pública, uma carreira que nem cogitava até então.

Finalizado o mestrado em meados de 2015, comecei a resumir livros para iniciar o estudo para concursos em 2016. Em certo momento, entretanto, pude perceber que eu havia resumido obras inteiras sem saber nem sequer um capítulo. Vi que era algo que estava muito mais ligado à forma do que ao conteúdo, eu não estava aprendendo.

Diante dessa experiência decidi desconsiderar o que tinha feito até então e ingressar em um programa de estudo de um curso, numa preparação específica para a carreira da advocacia pública. A partir de então (abril/2016) dei início ao meu projeto de me tornar procuradora. Minha estratégia era formar uma boa base, dominar os conteúdos em profundidade para que estivesse pronta para todas as etapas de um concurso.

Estudei pelo cumprimento de metas semanais, o que para mim foi muito bom, pois o caminho dos estudos é longo e o retorno demora um tempo para vir. Ao me ver avançando nas metas, eu burlava a ansiedade e me sentia progredindo.

Minha metodologia inicial era a leitura de doutrina indicada para concursos e confrontação com os resumos fornecidos pelo curso. Como eu me sinto insegura na utilização de materiais produzidos por outras pessoas, foi ideal para mim. Isso porque me poupou o tempo de iniciar os resumos do zero e, por outro lado, tinha a segurança de saber que li a doutrina e chequei tudo que estava escrito, acrescentando o que eu considerava importante.

OBS: Eu fiz isso com o material do curso, mas é possível utilizar esse método com sinopses, cadernos sistematizados, materiais de aula e, em algumas matérias cuja cobrança está essencialmente atrelada à letra da lei, basta anotar no próprio vade mecum. É uma forma de estudo completa, acessível e menos demorada que começar os resumos do zero.

Desde o início dos estudos comecei a fazer a provas de procuradorias. Mas não mudava meu planejamento em nada, apenas ia fazer. O tempo se passou e minha média não mudava, ficava entre 55 e 60%.

Com 8 meses seguindo a metodologia que citei conclui o estudo do edital e obtive minha primeira aprovação numa primeira fase, com 79% da prova (PGE MS). Contudo, na prova subjetiva fui reprovada. Tive dificuldades em sintetizar minhas respostas e o resultado foi a ausência de pontuação mínima já no primeiro grupo de matérias, coincidentemente o que eu mais dominava, processo civil e constitucional. Foi um balde de água fria e com ele a sensação de que a aprovação na primeira fase não passou de pura sorte, afinal, eu não estava pronta.

Hoje vejo que a grande questão relacionada a essa prova foi que coloquei muita expectativa. Não que eu devesse acreditar que não passaria. Mas eu fui ao meu limite e não vislumbrei a reprovação como uma opção. Ocorre que expectativa gera frustração e por isso meu baque foi grande, faltou maturidade para racionalizar o que estava vivendo.

Pensei em desistir, mas me forcei a continuar. Retomei o estudo e iniciei a revisão do meu material. Passei a reler meus resumos e grifá-los, ainda com dificuldades em incluir a leitura de lei seca. Vi que estava evoluindo na teoria, mas tinha medo de fazer provas. A experiência da reprovação na PGE MS me deixou o medo de vivenciar aquilo de novo, eu evitava provas, pois seria doloroso descobrir novamente que eu não estava pronta.

Foi então que me abri com o Júlio, a pessoa mais generosa que eu conheço, que tive a sorte de ter como colega de trabalho e tenho o prazer de ter hoje como amigo. Parte do meu amadurecimento na jornada dos concursos veio das minhas experiências, a outra parte devo ao Júlio. Ele sempre me ajudou a elaborar o que eu vivenciava e seguir em frente, sempre me incentivou, deu dicas, mostrou-me o caminho mesmo, sabe. Foi incrível poder contar com a ajuda de alguém que eu admiro e sou muito grata por isso.

O Júlio me mostrou que era necessário me testar. Foi então que, após uma viagem de férias, decidi prestar a prova da PGE SE, novamente na cara dura, sem revisão específica, li apenas a CF na semana da prova. Fiquei a dois pontos do corte e isso me animou muito. Diante do meu desempenho, passei a pensar que talvez a PGE MS não havia sido simples sorte, uma aprovação por acaso, mas sim um sinal de que estava ficando pronta, bastava aparar arestas.

Eu já estudava há um ano e meio, aguardava a prova da AGU, que nunca saía e por isso estava sempre preparando material, nunca num ritmo intenso de pós-edital. Diante do resultado da PGE SE decidi focar em PGEs. Pela primeira vez eu resolvi a prova inteira depois do gabarito oficial, fiz uma análise de tudo que errei e decidi intensificar os estudos, aprimorando minha metodologia, com a ajuda do Júlio, é claro.

Não deixei de trabalhar na assessoria jurídica de gabinete de Desembargador, nem de fazer minha atividade física. O resto eu larguei: textos, artigos, planejamentos de estudos para os outros, favor para os outros, massagem semanalmente. Eu coloquei meu foco no meu estudo e parei de dividir meu tempo com as mil e uma atividades que eu arrumava para mostrar para mim mesma que eu era boa. Vi que era só uma forma de tentar compensar minha frustração pela espera da colheita dos resultados nos concursos.

Passei a resumir meus resumos em fichas (é uma frase redundante, mas é a única que explica o que fiz realmente). Desse modo, eu conseguiria revisar em maior velocidade e, assim, ter contato com a mesma matéria num intervalo menor de tempo, o que facilitaria minha memorização. Além disso, me obriguei a incluir a lei seca diariamente. Dei mais atenção às matérias que eu dominava menos, como financeiro, ambiental, trabalho e processo do trabalho. Exercícios eu tentei incluir por várias vezes, mas nunca levava a frente, não fazia. O que funcionou muito bem comigo era resolver as últimas provas da Banca naquela área na semana da prova.

Depois de cerca de 4 meses revisando por fichas, lei seca e jurisprudência (inclusive do TST), logrei êxito em um concurso para Procurador do Estado. Cerca de um mês antes eu tinha feito PGE TO e não tinha passado nem na primeira fase. Eu vinha me perguntando: " o que estou fazendo de errado?". Hoje eu vejo que nada. Simplesmente eram bancas diferentes, provas diferentes, e eu estava na minha curva de acúmulo de conhecimento rumo ao momento certo.

Se eu pudesse deixar uma mensagem seria, estude muito, tenha foco, metodologia, mas, acima de tudo, cuide do seu controle emocional. Minha trajetória nem de longe foi das mais sofridas, em cerca de 2 anos eu logrei uma ótima aprovação. Mas perdi muito tempo me sentindo incapaz, achando que nunca conseguiria. Dei muito peso para as reprovações ou resultados ruins. Na PGE MS, por exemplo, se eu tivesse lidado com a situação como um avanço por estar numa segunda fase e seguido em frente, provavelmente minha aprovação teria vindo antes ou, ainda, meu desgaste teria sido menor.

Diria, ainda, que é normal sentir-se desanimado ou estagnado em algum momento. Mas que tudo isso se chama autossabotagem. Acredite em você. As reprovações são apenas parte do caminho até a aprovação e não há NADA de que você não seja capaz. Acredite em você e se afaste dos que não acreditam, daqueles que te colocam para baixo, minam sua autoestima. Concurso não é feito apenas de conhecimento, é feito também de sabedoria, paciência e inteligência emocional. Só não passa quem desiste.  

Por fim, só me resta agradecer pela oportunidade de deixar meu relato em um lugar por onde passaram tantos depoimentos de feras e, ainda, pelo apoio do meu amigo Júlio, que não merece nada menos que o sucesso que tem tido como profissional.

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