Trajetória nos concursos - Renata Muniz

By | março 23, 2019 Leave a Comment


Hoje trago a trajetória da amiga Renata, Procuradora da República do 29º CPR, finalizado em dezembro de 2018. Renata fala muito bem sobre como a falta de realização pessoal no cargo pode, como tudo na vida, ter seus lados positivos: a vontade de superar e, ainda, a pontuação na prova de títulos. E a história de Renata revela como energias boas tendem a atrair coisas boas: a legítima preocupação com a lotação - que poderia servir como justificável motivo de desânimo na escolha da carreira - acabou sendo um problema inexistente: está relativamente perto da cidade natal e com o marido junto também nesse novo capítulo! O MPF, sem dúvidas, possui muita sorte de tê-la em seus quadros! Obrigado, Renata!

O colega Júlio me pediu para falar um pouco sobre a minha trajetória até a aprovação no 29º CPR e posse como Procuradora da República, em janeiro de 2019.
Bem, depois de tantos depoimentos legais que foram compartilhados aqui, sobre métodos e dicas de estudos, resolvi falar de um fator que foi peculiar no meu percurso e que serviu de principal estímulo até a aprovação: a falta de realização pessoal no cargo que ocupava anteriormente. No ano de 2011, pouco tempo depois de me formar, eu tomei posse no cargo de Procuradora Municipal, na véspera de completar 24 anos.
Se a experiência profissional sempre me proporcionou inúmeras coisas boas, por outro lado, me fez encarar situações muito frustrantes no serviço público, desde cedo. E foram essas que me fizeram repensar qual o caminho que queria seguir. Eu tinha uma vida confortável, morava na minha cidade natal, onde desfrutava da convivência de familiares e amigos.

Em 2013, casei e a decisão de fazer concursos públicos para outros estados se tornou mais difícil, pois meu marido tinha sua vida profissional estabelecida na nossa cidade. Sem querer me desapegar dessa realidade, passei algum tempo sem fazer outros concursos públicos, me dedicando a dois cursos de pós-graduação, cujas monografias eu utilizei para publicação de livros (havia passado pelo trauma de perder posições, e sair das vagas previstas no edital, no concurso de Procuradora Municipal por falta de títulos) .
Porém, com o passar dos anos, a insatisfação profissional começou a falar mais alto, expandindo meus horizontes. Eu tinha decidido que queria mudar de carreira e precisava retomar os estudos para os concursos públicos. Nos idos de 2015, decidi estudar para a magistratura federal e para o MPF. Apesar disso, me inscrevi nos concursos da AGU ocorridos naquele ano, pois haviam muitas matérias em comum. Consegui avançar na primeira fase na PFN, em boa classificação, tendo sido reprovada na fase discursiva por 0,45!

Toda derrota é desagradável, mas, no fundo, sabia que não queria seguir a carreira da advocacia pública e, por isso, me conformei mais rápido. Aliás, esse episódio me impôs um bom ritmo de estudos, no qual eu consegui me manter. Passei a fazer as provas da magistratura federal de todas as regiões, tendo ficado por 1 questão para avançar para a fase discursiva, pelo menos umas 3 vezes. Em um intervalo de editais da magistratura, comecei a dar mais atenção ao edital do MPF. 
Foi, então, que descobri que os temas afetos a este despertavam meu interesse acima do normal, diferente de qualquer outro concurso público que já havia estudado. Como se sabe, o conteúdo programático do concurso do MPF tem várias peculiaridades em relação aos demais, exigindo uma preparação bastante específica. Paulatinamente, o fascínio pela carreira aumentava. O concurso do MPF virou meu objetivo principal. O desejo de me tornar Procuradora da República me motivou a estudar cada vez mais, como nunca antes.

Esse desejo também me fez minimizar as eventuais dificuldades da carreira, principalmente em relação ao local de lotação inicial. Estudava pensando apenas em passar.
O edital do 29 CPR saiu em agosto de 2016 e eu estava estudando apenas há alguns meses com o foco maior no MPF. Por sorte, a prova objetiva foi adiada para março de 2017. Prova exaustiva, lembro de nem ter me levantado para ir ao banheiro ou de beber água e lanchar.  Depois dela, a expectativa do gabarito. Havia saído um extra-oficial, pelo qual eu estava com boas chances de avançar. Contudo, essa expectativa durou mais de 1 ano, em virtude da paralisação do concurso por decisão judicial (um drama que só quem fez o 29 CPR sabe como foi). Com a retomada do concurso e divulgação do gabarito preliminar, um novo drama: tinha ficado com boa pontuação no geral, mas precisava de 2 anulações para alcançar o mínimo no GIV. Porém, no fundo, algo me dizia que eu ia conseguir. As questões recorridas foram muito analisadas durante a época em que o concurso ficou suspenso e a anulação era provável.

No dia do gabarito definitivo, bateu aquela insônia para esperar o DOU ser publicado na madrugada. E lá estava meu nome como aprovada na primeira fase do 29 CPR, junto com apenas 94 colegas, salvo engano, dentre 13 mil inscrit@s!  Eu passei a acreditar, com muita força, que iria conseguir ser aprovada nesse concurso!
Veio a fase discursiva em pouquíssimo tempo depois, acho que em um intervalo de 3 semanas da divulgação do gabarito definitivo.  Estudei loucamente! Aproveitei para pedir férias do trabalho e passei essas 3 semanas sem sequer sair de casa. Começava a estudar de manhã e ia até a madrugada todos os dias.  Chegou a data de enfrentar a maratona das discursivas do MPF, divididas em 4 dias seguidos, com duração de 4 horas cada para resolver uma dissertação ou peça ou parecer e mais 6 questões. Fui lá, morrendo de medo, mas o tempo era tão curto e as provas tão longas, que a pessoa vai agindo por instinto. No final das provas, veio a sensação de insegurança em várias questões mas, no geral, havia conseguido responder todas.

Tinha chegado ao nível máximo de dedicação, se não passasse não era para ser. Veio a sensação de que eu havia feito tudo o que podia. Estava, estranhamente, tranquila. O dia do resultado chegou e ele foi positivo! Havia avançado para a prova oral! Quando soube que tinha conseguido, simplesmente desabei de chorar, chorei muito, desesperadamente. Acho que coloquei para fora todas as emoções que eu havia conseguido controlar na época das discursivas. E mais, apenas 48 colegas tinham avançado também! Eu nunca havia imaginado pertencer a um grupo tão seleto.
Passei ,então, a me preparar para a prova oral. Uma  fase extremamente estressante. Aqui, é você contra seu emocional. A única coisa boa dessa fase é a troca de experiências com @s colegas, pelos treinos coletivos via Skype e eventuais cursos presenciais. Nas horas mais difíceis, vemos como nos solidarizamos com @ outr@ que está na mesma situação. Fiz grandes amizades nessa fase!  E, assim, chegou o dia da minha prova oral, em 26 de novembro de 2018, na PGR.

Um dia para ficar para sempre na memória! A atmosfera daquele ambiente era surreal! Parecia que eu estava sonhando! Era difícil de controlar toda a mistura de sentimentos que vivia ali, tudo era muito intenso: do medo à euforia! Bem ou mal, essa maratona estava prestes a acabar! Depois de passar por todas as 11 bancas, fiquei apreensiva em 2. Até o dia do resultado final, não conseguia fazer mais nada direito. Ao menos, a espera durou pouco.
Dias depois da prova divulgaram o resultado. Fui aprovada! É, realmente, indescritível, a felicidade desse momento! No final, fiquei na 14º colocação, e fui nomeada junto com @s 17 primeir@s colocad@s, em janeiro de 2019. Durante todo esse trajeto aprendi uma coisa que jamais esquecerei: a força do querer é transformadora e nos leva a um nível de superação inimaginável.
Tenho plena consciência de que tudo o que aconteceu durante essa trajetória teve seu devido peso para que eu conseguisse ser aprovada nesse concurso.

Até mesmo o tempo que permaneci desiludida no cargo anterior, 7 anos no total, me permitiu pontuar significativamente na fase de títulos dessa vez, junto com as especializações e publicações. As frustrações me tornaram resiliente: amadureci, me fortaleci, encontrei serenidade para continuar e fazer minhas melhores escolhas.
As preocupações em relação à lotação  ficaram para trás, a partir do momento que eu me tornei totalmente aberta para encarar os desafios do novo cargo. No final, o destino me proporcionou muito mais do que eu havia imaginado, e tudo foi se ajeitando da melhor maneira, inclusive na vida pessoal, já que meu marido veio comigo para a cidade da minha lotação, nos permitindo escrever esse novo capítulo na nossa linda história! Já nos meses que antecederam as últimas fases do 29 CPR, descobri uma música que virou uma espécie de mantra para mim, chamada "Tá escrito". Eu a escutava quase todos os  dias, na versão interpretada por Caetano Veloso, e seus filhos Zeca, Moreno e Tom, no álbum Ofertório, cuja letra eu deixo de mensagem:

"Quem cultiva a semente do amor
Segue em frente e não se apavora
Se na vida encontrar dissabor
Vai saber esperar a sua hora
Às vezes a felicidade demora a chegar
Aí é que a gente não pode deixar de sonhar
Guerreiro não foge da luta e não pode correr
Ninguém vai poder atrasar quem nasceu pra vencer
É dia de sol, mas o tempo pode fechar
A chuva só vem quando tem que molhar
Na vida é preciso aprender
Se colhe o bem que plantar
É Deus quem aponta a estrela que tem que brilhar
Erga essa cabeça, mete o pé e vai na fé
Manda essa tristeza embora
Basta acreditar que um novo dia vai raiar
Sua hora vai chegar"


Desejo resiliência e sucesso a tod@s!
As. Renata Muniz 

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