Revisão - Parte 4 - A ilusão da lembrança de tudo

By | fevereiro 21, 2019 Leave a Comment


Há uma ilusão comum no meio dos concursos de que os primeiros colocados lembram tudo nos mínimos detalhes, o que seria a justificativa plausível para acertarem mais de 80% em provas diversas. Ninguém, porém, consegue memorizar tudo.

A realidade é que os candidatos mais preparados praticamente não erram questões fáceis (súmulas, núcleo duro das leis e doutrina básica). Acertam boa parte das questões intermediárias, ficando em dúvida entre duas alternativas em algumas. E acertam cerca de 50% nas difíceis, nas quais filtram bem menos e respondem por eliminação.

O exemplo é a prova do MPF, que, na prática, exige que se acertem 18 das 30 questões de cada um dos 4 grupos (60%). Para passar para a segunda fase, “basta” fazer esses 60%, mas menos de 100 pessoas, mesmo após anuladas questões, conseguiram. Muitos amigos juízes não passaram. O motivo: há grupo, como o IV (penal e PP), que praticamente só tem questão difícil. Nessas questões é  impossível fazer 80% da prova e é bem desafiador fazer 60%.

A “ilusão” da lembrança de tudo pode ter três consequências: (i) a superestimação da concorrência (outras pessoas são “gênios”); (ii) a desconfiança do próprio potencial (que se manifesta na ansiedade e na mudança constante de método); e (iii) a execução de um método pouco eficaz (como a leitura lenta de resumo prolixo).

Nesse contexto, não é incomum que um candidato, percebendo que foi cobrada uma questão bem difícil (por ex., licenciamento ambiental de recursos minerais), conclua pela necessidade de ler, lenta e repetidamente, materiais sobre o tema. O método executado, entretanto, está fundado na premissa de que é necessário alto grau de precisão em questão difícil, o que não se coaduna nem mesmo com o desempenho dos melhores colocados.

Não vale a pena alimentar essa ilusão de domínio e contorcer o método (e a leitura) para isso. Eu sempre li em velocidade habitual e desacelerava um pouco em temas mais densos, isto é, aqueles em relação aos quais existem anotações doutrinárias e jurisprudenciais (que são, aliás, os que têm mais chance de cair em todas as fases).

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