Trajetória nos concursos - Thales Braghini Leão

By | fevereiro 14, 2021 Leave a Comment




Trago hoje a trajetória de Thales Braghini Leão (@thalesbleao), Juiz Federal do TRF-3ª Região! A jornada do Thales é inspiradora e é um excelente exemplo de como o amor pelos livros pode fazer diferença na vida de uma pessoa. De família simples encontrou no jogo de xadrez não apenas um esporte, mas uma forma de ampliar a sua concentração! E não só isso: o desejo de superação o levou a buscar livros para evoluir no jogo, tanto que virou professor. Outro ponto bem interessante é a humildade de constatar que o fato de fazer minutas de sentenças enquanto assessor não afasta a necessidade de se "adaptar ao jogo da prova escrita", isto é, a sentença real é uma coisa, a sentença de concursos é outra coisa. Lutando contra cada ponto fraco (como ocorre também no xadrez), Thales obteve a aprovação e nomeação no TRF-3ª e fornece dicas muitos legais no @thalesbleao (espero que também apareçam dicas de xadrez lá!). Vale a pena seguir e acompanhar! Parabéns pela jornada inspiradora, @thalesbleao!
  

Faz tempo que estou devendo meu depoimento ao amigo professor Júlio!

Gravei um vídeo no meu canal do Youtube contando minha trajetória até Juiz Federal. Mas a ideia de trazer isso para um texto escrito e objetivo é muito boa. Quem ainda está na luta merece objetividade para focar nos estudos! Vou resumir minha história e acrescentar algumas coisas que não contei no vídeo.

Não costumo falar de detalhes sobre a minha vida pessoal e dificuldades que enfrentei. Mas compreendo que histórias de superação podem ajudar. Nesse espírito que vou falar da minha vida antes de ser concurseiro.


Sou filho de trabalhadores que tiveram acesso mínimo a escola. Meu pai é pintor e minha mãe era faxineira. Aos 25 anos minha mãe já havia gerado 5 filhos (sou o mais novo), sendo que meus pais sequer tinham emprego fixo. Só por aí se imagina a dificuldade. Estudei sempre em escolas públicas, sem acesso ao básico e contando com a ajuda de parentes e amigos para quase tudo. Meu pai era autônomo e por vezes ficava muito tempo sem trabalho, dificultando mais ainda a situação de uma família que já era de baixa renda, na linha da miserabilidade. Comecei a trabalhar cedo (10 anos) para ajudar em casa e também ter o mínimo para minha própria manutenção, como itens de escola e alimentação. Mesmo assim, a educação sempre foi a prioridade para meu pai. Ele não deixava aprender a profissão dele e sim estudar. Essa visão do meu pai foi decisiva para o rompimento do ciclo de pobreza. Eu e todos os meus irmãos conseguimos nos formar em nível superior, mas não sem ralação. Para mim, um grande diferencial na vida foi o jogo de xadrez. Não prossegui no esporte por motivos vários, mas a luta contínua para evoluir meu nível de jogo contribuiu muito para despertar em mim a paixão pelos livros e estudos, além de outros fatores, como concentração e força de superação. Foi o xadrez me deu a possibilidade de trabalhar como professor, o que fiz por mais de 6 anos e me encantei pelo ensino, descobrindo ali uma verdadeira vocação, que agora voltei a despertar.


Minha vida melhorou quando tomei posse no primeiro cargo público, de técnico do INSS, ainda na faculdade. Antes disso, eu trabalhei em inúmeras profissões e sempre me via obrigado a conciliar trabalho com estudos. Entrei na faculdade já muito focado em conseguir algum cargo público porque sabia o quanto seria difícil disputar os grandes cargos púbicos sem dinheiro para livros, cursos e viagens de provas. No início da faculdade eu não conseguia comprar os livros sugeridos, tendo que utilizar o material da biblioteca, quase sempre muito desatualizado. Fora dificuldades para me manter estudando porque o meu ganho no trabalho mal dava para custear despesas mínimas da vida. Mesmo trabalhando das 8 até às 17, saindo direto para o ônibus da faculdade, que só retornava meia noite, eu ainda conseguia achar tempo para estudar para concursos. Acordava bem cedo para estudar e também lia o que podia nos intervalos das aulas ou em períodos vagos. Chegava a matar aulas para estudar na biblioteca, quando isso não comprometia a meta de obter o diploma, pressuposto básico para ser juiz.


Depois de fazer várias provas de nível técnico e conseguir lista de espera em muitas delas, finalmente veio a nomeação e posse no INSS. Foi uma revolução nos meus estudos e foco nos concursos grandes. Passei o início quitando as dívidas que fiz com familiares para custear tantas provas que vinha fazendo. Logo em seguida comecei a investir em livros. Fui comprando tudo o que tinha vontade de ler e não podia. Conhecendo bons autores para concursos e que normalmente não encontramos em bibliotecas. Rapidamente montei um arsenal de estudos e passei a usar muito esse material com foco na magistratura. Eu gostava muito de autores didáticos e fui buscando um livro base para cada matéria. Isso contribuiu para formar um entendimento geral das matérias. Fazia resumos desses livros e aos poucos ia aprendendo a revisar. Eu conto isso em detalhes lá no meu canal. No geral, eu digo que sou fã de resumos e eu fazia à mão. Mas hoje recomendo modernizar isso. Nas minhas pesquisas e estudos atuais eu organizo resumos e fichamentos no Evernote, porque acho muito bom para organizar em fichas com acesso fácil pelo celular e com poderosa ferramenta de pesquisa.


Ainda durante a graduação eu tentei a sorte em vários concursos grandes. Fiz os concursos de Advogado da União, Procurador Federal e Procurador da Fazenda Nacional, Procurador do Banco Central, Defensor Público Federal e outros cargos que não exigem documentação na inscrição. Reprovei em tudo! Alguns fiquei muito longe, mas nos últimos eu cheguei muito perto, sendo reprovado na DPU por apenas meio ponto, mesmo ainda estando no início do meu quinto ano da faculdade. Naquela época isso me deixou muito chateado e cheguei até a ficar um tempo sem conseguir estudar para concursos. Hoje vejo como um grande mérito essa quase aprovação nas fraudas jurídicas.

Logo em seguida à minha formatura, eu tomei posse na Justiça Federal, no cargo de técnico. Essa experiência prática na Justiça Federal foi decisiva na minha vida e retornei com força total. Fui evoluindo e focando cada vez mais. Logo voltei à ativa, me inscrevendo em várias provas. Principalmente para Juiz Federal. Foram inúmeras reprovações nas primeiras fases. Fui superando as dificuldades tentando sempre compreender no que precisava focar. Detectei que minhas maiores dificuldades estavam na lei seca e jurisprudência. Eu gostava demais da parte teórica do direito e acabava deixando de lado a objetividade de um texto de lei e como é cobrado nas provas. Foquei muito nisso e na retenção das informações na memória. Lia muitas vezes os códigos, grifando e fazendo questões para revisão. O mesmo com jurisprudência, sendo que me vi obrigado a devorar os três últimos anos de informativos do STJ e STF porque detectei que estava levando muito menos a sério isso do que o pessoal da Cespe!


Melhorando isso eu comecei a chegar mais perto das segundas fases. Nisso já estava há mais de 2 anos totalmente focado nos concursos de magistratura, sem contar os anos anteriores que passei estudando ainda durante a faculdade. Como eu era assessor de Juiz Federal, fui muito confiante para minha primeira prova de segunda fase porque acreditava que minha experiência preparando minutas de sentença seria suficiente para fazer uma prova tranquila. Mas não foi bem por aí e senti bastante dificuldade, principalmente para redigir a sentença à mão. Como faz falta um copiar e colar! Mesmo que seja só para organizar os raciocínios nos parágrafos. A prova manuscrita exige uma técnica de organização apurada e a gente só consegue isso com treinamento específico. Então eu entrei naqueles treinamentos de sentenças, que entregam um caso por semana para redigirmos a solução simulada. Eu fazia questão de montar a minha resposta à mão em modo simulação total. Fazia de uma vez e sem acesso a material, de internet ou livros. Era eu com um papel, uma caneta e um vade-mecum encarando a prova em 4 horas marcadas no cronômetro. Depois eu digitava a sentença e mandava para correção do curso. Fiz isso por alguns meses e senti muita melhora na minha técnica de redação.

Reprovei em mais uma segunda fase porque abusei da força de vontade e cheguei esgotado. Com isso aprendi a necessidade de também descansar.

Logo na próxima segunda fase eu usei toda a minha experiência para saber dosar ao exato o esforço e o descanso, chegando muito bem preparado para o dia decisivo. Deu tudo certo e consegui a sonhada aprovação em 2014, no TRF3, após mais um esforço grande na prova oral.

Para ela eu me dediquei muito aos resumos do edital, tanto os que são montados pelos concurseiros (o famoso santo Graal), quanto os meus resumos próprios. Eu ainda usava os resumos que havia preparado na época da faculdade! Claro que fui atualizando e incorporando esses resumos, mas levei comigo até final da carreira concursal!

Fiz também cursos de prova oral. Acho muito importante investir o que puder nessa fase porque você está tão perto e ao mesmo tempo não tem nada. Eu me via na pergunta final do Show do Milhão. Então eu fiz cursos que ensinavam as técnicas gerais de oratória e exposição. Fiz cursos que tinham provas simuladas. Mais de um deles, para ter mais de uma percepção. E também mantinha encontros semanais via Skype com outros colegas que estavam na fase oral, oportunidade em que um arguia o outro para nos testarmos. Acho que a gente era mais carrasco que os examinadores! E isso foi ótimo pra gente! Do nosso grupo, todos conseguiram passar na prova oral.

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