Trajetória nos concursos - Rudá Santos Figueiredo

By | maio 17, 2020 Leave a Comment


Trago hoje a trajetória de Rudá Figueiredo (@rudafigueiredo), promotor aprovado em 1º lugar do último concurso do MP-BA e mestre em ciências criminais. A jornada de Rudá é muito interessante porque, para ele, a grande guinada ocorreu quando percebeu a razão da ansiedade e impaciência nos estudos para concurso. Não são poucas as vezes que lemos e ouvimos a pertinência do aforismo de Sócrates do "conhece-te a ti mesmo". A guinada muitas vezes está em encontrar aquilo que funciona para você... o que, aliás, pode não servir para ninguém mais! E a sistemática de cronograma exaustivo funcionou muito bem para Rudá, separando um horário para os estudos com clareza do que deveria ser lido! Como bem disse Rudá antes de ocorrer essa guinada, "novo método, novo(s) tombo(s)"! Obrigado pelo texto e parabéns pela brilhante jornada, @rudafigueiredo!

Oi, pessoal! Fui convidado, gentilmente, pelo Prof. Júlio César Almeida para falar um pouco de minha trajetória nos concursos, com o objetivo de fortalecer os concurseiros e concurseiras que o seguem nessa caminhada árdua.

Meu nome é Rudá Figueiredo e, hoje, sou Promotor de Justiça no estado da Bahia, sendo agraciado pelo 1º no lugar no certame para ingresso na carreira. Além disso, sou professor de direito penal da Faculdade Baiana de Direito e de cursos preparatórios para concursos. 

Minha trajetória profissional se iniciou em 2007, quando ingressei no curso de Direito da Universidade Federal da Bahia, concluído no início de 2012. Contudo, comecei a estudar para concursos muito mais tarde, em 2017, após advogar por alguns e deslindar que, efetivamente, desejava a carreira pública, notadamente, o cargo de membro do Ministério Público.

Há, nesse ponto, um aspecto, para mim, importante. Efetivamente, tive colegas que decidiram fazer concursos desde a graduação e, por isso, dedicaram-se aos estudos voltados às provas desde então. Naturalmente, ao saírem da faculdade, estavam encaminhados no universo das provas. É que a aprovação é o resultado de uma equação cujas variáveis são tempo, esforço e, claro, uma pitada de capacidade. Digo isso para que as pessoas se apercebam não apenas da necessidade da caminhada, como do autoconhecimento e da autocompaixão. Apenas vocês, caros concurseiros e concurseiras sabem a dor e delícia de ser o que são, entendem suas próprias motivações, realidades e trajetórias. Por isso, são as únicas pessoas que podem, efetivamente, construir os ladrilhos da caminhada pessoal. Por isso não devem se comparar a outros candidatos e candidatas. Por isso precisam ser pacientes com os próprios erros e aceitar a própria falibilidade, esforçando-se, no entanto, a cada dia, para superá-los. Por isso, também, não devem ter medo de mudar a trajetória (ou estratégia), adotar novos caminhos, de acordo com o autoconhecimento, compreendendo, no entanto, que toda escolha tem ônus e bônus. Deixar a advocacia me fez alterar totalmente o rumo de minha vida e, como todos os leitores deste perfil devem saber, o mundo dos concursos não é fácil. Contudo, lhes digo: valeu a pena pagar o preço pelo meu sonho. Não poderia me sentir mais realizado e essa capacidade de reorganização foi essencial, inclusive, para lidar com os diversos percalços do caminho. “Torna-te quem tu és”, diria Nietzsche. 

Já havia feito especialização e mestrado no período em que comecei minha trajetória nos concursos. Efetivamente, os estudos feitos ao longo da vida e a experiência ajudaram. Contudo, o universo dos concursos é único e distinto. Então, em diversas frentes dessa batalha, comecei do zero. Precisava estudar diversas matérias com as quais não mantinha contato há muitos anos. Outrossim, a maneira de estudá-las precisava ser absolutamente diferente.

Quanto ao modo de estudar, algumas observações são necessárias, iniciando pela disciplina e a rotina, as quais, efetivamente, afiguraram-se imprescindíveis: a quantidade de assuntos é enorme e, efetivamente, precisamos reter, por tempo considerável, muitas informações. Sua vida não precisa se encerrar nos estudos (sabe o Natal? Não precisa deixar de comer a ceia para ler a 8.666), mas precisa girar em torno deles, se você for como eu: tem pensamento acelerado, facilmente dispersa de uma leitura e pensa em outras coisas, principalmente ao ler a “lei seca”. Se você, de repente, se perde nos próprios pensamentos e quando volta ao “vade mecum” sequer recorda o que estava lendo, precisa de um momento do dia para pensar apenas nos estudos e formar sua agenda visando a não o afetar, principalmente se, como eu à minha época, estudar e trabalhar. Por que isso? É que ao construir sua rotina em torno do seu horário de estudo, você pode dedicar-se a essa atividade, no momento separado para ela, sem pensar em outras obrigações e compromissos. Lamentavelmente, levei um tempo até descobrir isso e, por essa razão, muitas vezes, me autoflagelei por não conseguir prestar atenção, e. g., naqueles dispositivos do SNUC, pois olhava o relógio a cada dez minutos, para verificar se estava no horário de sair para um compromisso. Uma sucessão de erros: não me entender, não traçar uma estratégia de acordo com meu perfil, me punir pela minha própria falibilidade. Mas com o tempo e, principalmente, com a capacidade de reelaboração, aprendi a lidar melhor com tudo isso, mesmo porque, desistir nunca foi uma opção.

Ainda derredor do método, iniciei fazendo leituras dos livros largamente indicados para concursos, com metas de páginas diárias. Não senti, entretanto, progressão, no desempenho em provas, por tal via, após alguns meses lendo e fichando as obras, o que foi muito frustrante. Assim, decidi reavaliar minha estratégia, pois, efetivamente, os meus objetivos eram absolutamente indiferentes a mim e a minha necessidade de alcançá-los. A eles eu precisava me adequar e não o contrário. Em verdade, os objetivos, de modo geral, são indiferentes àqueles que os buscam. Eles vivem em nossos sonhos, habitam nossa alma, mas não nos amam. Se você quer alcançá-los, não ache que eles se aproximarão de você. Cabe a você caminhar até eles, quiçá transpor abismos. 

Nesse momento, cometi mais um erro de avaliação. A vigência de editais para provas de meu interesse me fez buscar cursos de “reta final”, os quais apontavam o caminho para revisão dos assuntos do edital. Mas eu ainda não estava pronto para apenas revisar. Ademais, como trabalhava e estudava, para revisar todo o assunto até a prova, teria de ler apenas a “lei seca” até ela. O finito tempo por mim detido não me permitiria sequer uma revisão completa. Este método (leitura apenas da lei), para mim, resultou infrutífero. Simplesmente não tenho capacidade de ler a lei com atenção por horas e reter as informações ali presentes. Novo método, novo(s) tombo(s).

A nova queda, todavia, me fez concluir algumas coisas: (a) precisava de um método que contemplasse, sim, a lei, mas que me fizesse reter as informações ali contidas; (b) precisa reavaliar minha impaciência para chegar à aprovação, sem me preocupar com as provas agendadas naquele momento.

De fato, esse foi um momento chave em minha trajetória, pois percebi que muito da ansiedade com relação aos concursos derivava do rompimento que universo dos certames impunha à ordenação cronológica de minha mente, formada através de anos de educação formal divididos em unidades, bimestres, semestres, provas e férias (mais uma vez, a indiferença dos meus sonhos me aplacando). Efetivamente, na trajetória dos concursos precisamos estudar o que não gostamos, por tempo indefinido. Não existe mais semestre, unidade ou ferias; só há você e uma infinidade de assuntos; angústia pelo edital que não vem ou pela prova que está perto demais. Percebi então que eu precisava ter um calendário meu, que respeitasse meu tempo e minhas necessidades, a partir do qual eu pudesse construir a base para meu sucesso. Decidi então reiniciar a jornada, mas, dessa vez, construindo o mapa para chegar ao ponto almejado, com consciência de meus erros e acertos. Vale citar, que, durante meus estudos, eu trabalhava, exercendo o cargo de assessor da Procuradoria de Justiça Criminal do próprio MP-BA, e lecionava na Faculdade Baiana de Direito. Assim, detinha menos tempo para os estudos e, portanto, concluí que precisava também ter mais paciência com meu rendimento e progressão, traçando metas realistas de atividades diárias, de acordo com minha realidade.

Cheguei, então, ao método a partir do qual tive maior evolução nas provas, logrando, por fim, aprovação, qual seja, seguir o cronograma e material pré-elaborados de um curso, adaptando-o a minha rotina. O cronograma indicava exatamente os temas e fontes a serem consultados a cada dia, contemplando lei, doutrina, jurisprudência e resolução de questões. Seguindo essa fórmula, não me ocupava mais da angústia de pensar no que ler, quando ler, quanto ler, e focava apenas em ler, pelo período necessário e, principalmente, no tempo que eu detinha! Também assisti aulas, em matérias nas quais tinha maior dificuldade, sempre as inserindo na lógica de meu cronograma (elas substituíam, nesse caso, o livro ou resumo).

Tive diversas reprovações, naturalmente, em todo esse caminho. Foram tantas que ficou difícil listar cada uma delas alhures, junto a cada referência aos erros e tombos. De toda sorte, fui chamado para falar de minha trajetória e toda trajetória é inglória. Ordinariamente, silenciosa, até seu ponto culminante. Então se reinventa e aos olhos dos que a testemunham, no mais das vezes, por erro, fica à vista apenas o cume, restando ao novo caminho, naturalmente, o silêncio. Agradeço, assim, nessas linhas derradeiros, o convite que me permite apresentar a silenciosa trilha, imbuído da esperança de que, ao vislumbrá-la em sua crueza, os leitores e leitoras robusteçam os passos em suas respectivas estradas. É difícil, mas vale a pena!



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