Trajetória nos concursos - Alessandra Correa

By | março 21, 2020 Leave a Comment


Trago hoje a trajetória de Alessandra Corrêa, aprovada para juíza do TJPR (2019). O relato de Alessandra é uma incrível jornada de autoconhecimento: vendo características pessoais, como a desorganização, ansiedade e extremismo ("oito ou oitenta"), impactarem o estudo. E foi ao superar o último ponto, permitindo-se uma jornada mais leve e sem tantos cronômetros, que Alessandra obteve a aprovação. Como bem disse a Alessandra, "tirei férias e, assim, volteia estudar, mas com uma condição: seria mais gentil comigo mesma e, também, flexível. E assim comecei o ano de 2019. Voltei a conviver com minha família e amigos e passei a encontrar meu namorado fora de dias pré-determinados – apoio este indispensável à minha aprovação. Além disso, finalmente me permiti descansar (aos domingos). E foi assim que reencontrei o prazer por estudar". Obrigado e parabéns, Alessandra!

Incialmente, agradeço ao Julio pelo convite para compartilhar minha trajetória. Fui aprovada no concurso para a Magistratura do Tribunal de Justiça do Paraná. Mas a aprovação é “apenas” o desfecho de uma caminhada repleta de desafios e reprovações, o que– só hoje consigo ver – foi essencial para meu crescimento.

Em 2014 iniciei os estudos para Magistratura. Não conseguia, no entanto, estabelecer uma rotina minimamente razoável de estudos. Na verdade, só tempos depois, percebi que ainda não estava verdadeiramente disposta a estudar com seriedade, situação que perdurou até o dia 1/5/2016. Prestei, nesta data, concurso para a Magistratura do TRF4 e obtive pontuação razoável (5 pontos abaixo do corte), se comparado ao meu grau de comprometimento. Daí em diante, a ficha caiu: eu precisava mudar. Passei, então, a tratar o estudo como meu trabalho,  mantendo, pelo menos, uma rotina diária de 6 horas líquidas (comecei a cronometrar meu tempo de estudo), além de estudar também aos finais de semana. Ressalto que trabalhava no escritório da minha família e, assim, não precisava cumprir jornada fixa de trabalho, o que facilitava minha organização. 

Meu estudo, em síntese, era feito da seguinte forma: assistia aulas de cursinho pela manhã, lia a aula assistida à tarde. No final do dia, realizava algumas questões sobre o tema estudado (usava as questões como forma de fixar a matéria, e não para aferir meu desempenho).  Aos finais de semana dedicava-me aos informativos dos Tribunais Superiores.  Lia doutrina apenas nas matérias em que já tinha base ou para sanar dúvidas pontuais. Não lia, isoladamente, lei seca, (apenas aquilo que constava no material da aula), exceto a Constituição Federal.

Durante minha preparação, pude perceber que estudar para concursos reforça nossas características mais marcantes. No meu caso, posso citar três delas. A primeira foi a desorganização. Sempre fui desorganizada. Não conseguia, portanto, montar um cronograma próprio, nem mesmo antes de provas objetivas, salvo nos 5 dias anteriores a ela, em que lia a Constituição e a revisão do Dizer o Direito. Tampouco conseguia estabelecer um método para revisar. Eu vivia, em suma, um dia de cada vez (enquanto fazia cursinho era mais fácil, porque estudava a aula disponível no dia), o que me trazia uma culpa enorme, porque me comparava (e muito) com outros colegas. Pensava, invariavelmente, como vou ser aprovada se sequer consigo me organizar?

A segunda característica – bastante agravada – pelo estudo foi a ansiedade. Quanto mais eu estudava, mais ansiosa ficava. Meu sono, minha alimentação e meu bem-estar ficaram comprometidos. Neste ponto, algumas coisas foram essenciais (e que só agora consigo perceber): parar de me culpar por não seguir cronogramas, parar de cronometrar o tempo de estudos e de me comparar com os colegas. Além disso, foi essencial aceitar que eu não poderia mudar algumas coisas. A principal delas é que eu daria meu melhor e, muitas vezes, isso não seria suficiente. Afinal, as reprovações são parte do processo. A preparação para concursos ensina, portanto, a ter paciência, pois os resultados não são imediatos. Demoram (muito) mais do que gostaríamos. 

Finalmente, posso citar minha dificuldade com flexibilização. Ser oito ou oitenta marcou a minha trajetória. Se comecei indisciplinada, tornei-me, depois, uma pessoa extremamente dedicada e rígida. Me afastei, por consequência, da família e dos amigos. Foi então que, em setembro de 2016 fui aprovada, pela primeira vez, para uma segunda fase – concurso de Procurador do Município de Porto Alegre (no qual fui obtive  a aprovação dezembro de 2017). Em março de 2017 também fui habilitada à segunda fase do TRF2, mas reprovei nas discursivas. Daí em diante me dediquei ainda mais aos estudos. Eu já não fazia mais nada, a não ser estudar (de segunda a segunda) ou me culpar por não estar estudando. Acreditava, de fato, ser este o caminho para a aprovação (o que, mais tarde, percebi não ser verdade). Ocorre que, em 2018, a despeito de me dedicar intensamente, fui reprovada em duas segundas fases (trf3 e trf2). Me sentia, então, exausta, isolada das pessoas que amava e, ainda assim, reprovada. No final de 2018 pensei seriamente em desistir, dominada pelo sentimento de incapacidade. 

Tirei férias e, assim, volteia estudar, mas com uma condição: seria mais gentil comigo mesma e, também, flexível. E assim comecei o ano de 2019. Voltei a conviver com minha família e amigos e passei a encontrar meu namorado fora de dias pré-determinados – apoio este indispensável à minha aprovação. Além disso, finalmente me permiti descansar (aos domingos). E foi assim que reencontrei o prazer por estudar.  

Me inscrevi, então, no concurso para o TJPR. Fui aprovada à segunda etapa, quando, então, decidi estudar em uma sala de estudos, o que contribuiu para que eu tivesse uma rotina mais saudável (menos tempo, mais produtividade). Lembro de ter certeza da reprovação nas discursivas do TJPR. Para minha surpresa, fui aprovada não só nas discursivas, como nas sentenças civil e penal e na prova oral. Finalmente,  em novembro de 2019 obtive a aprovação que, exatamente um ano antes, parecia impossível. 

Encerro o relato da minha trajetória dizendo aos colegas algumas coisas que, só depois da aprovação, acreditei (embora tenham me dito antes). A primeira é: não se comparem, confiem no que funciona para si, não existe uma fórmula universal de aprovação. Mas não esqueçam que, embora cada um tenha seu jeito, nada substitui as (muitas) horas de estudo. E, finalmente, o mais importante: aproveitem a caminhada. Ela é uma grande oportunidade de aprendizado e amadurecimento. 

  

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