Fases do concurso - Prova oral - Parte 18 - A oratória não é exercício de perfeccionismo: a importância da presença de palco e desenvoltura

By | fevereiro 05, 2020 Leave a Comment


A prova oral NÃO precisa ser um exercício de PERFECCIONISMO, que tende a flertar com posturas binárias: OU tudo sai perfeito (como a transcrição de discurso escrito e revisado) OU joga-se a toalha. Isso se evidencia nas provas orais pelo constante ato de alguns candidatos de lamentar (i) pequeno travamento (como o ato de gaguejar), (ii) esquecimento de termo mais técnico e (iii) dificuldade momentânea de desenvolver tema fácil.

No pequeno vídeo, é possível perceber Obama gaguejando na primeira frase do discurso de despedida (“you can tell...”). Isso não é motivo para ele perder o olhar confiante, a vontade de terminar a frase e a energia na comunicação. A forma dele se comunicar no CONTEXTO ilustrado é certamente melhor, sob a perspectiva de EFEITOS do discurso, do que se fosse apresentada uma pronúncia ESCORREITA, mas SEM EMPATIA e ROBOTIZADA.

Sobre o ponto, a leveza na oratória, vista como uma arte de PERSUASÃO, foi algo exortado pelos SOFISTAS, que, na história, receberam uma pecha desmerecida de “pessoas que cobravam para corromper os jovens, ensinando-os a mentir”. A proposta contrária – mais rigorosa – colocava a oratória em regras muito difíceis de dominar, como ilustram a Tópica e a Retórica de Aristóteles, razão pela qual somente filósofos teriam plenas condições de falar nos debates na Ágora. À guisa de exemplo, Aristóteles, na Tópica, propõe a maneira adequada de se argumentar dentro de predicados monádicos (“S é P”… “sujeito é/está contido no predicado”), esmiuçando a pluralidade de raciocínios e inferências cabíveis para o “S é P”, com argumentos de (i) definição, (ii) gênero, (iii) propriedade e (iv) acidente.

Trazendo isso para a prova oral, o dilema ganha tornos mais claros. Como o objetivo na prova é obter a melhor nota possível com recursos escassos (inclusive de memória), a leveza na construção do raciocínio, sem excessivo rigor no encadeamento/explicitação das premissas, traz mais confiança/fluência de informações, diferentemente do que sucede com o perfeccionismo. E a PRESENÇA DE PALCO/DESENVOLTURA (com pausas/alteração de velocidade, energia/ênfase e entonação em ascendência) é algo que ameniza atecnias e amplia a sedução/persuasão.




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