Trajetória nos concursos - Pablo Palaro

By | janeiro 03, 2020 1 comment

Trago hoje a trajetória de Pablo Palaro, aprovado para juiz do TJSP (concurso 188). O texto do Pablo é muito interessante, destacando desde a superação da procrastinação à importância dos amigos no momento das renúncias. Em especial, destaco ponto muitas vezes ignorado no cotidiano: as perguntas de pessoas próximas sobre o andamento de concursos NÃO necessariamente ocorrem pela intenção de expor/ridicularizar/diminuir outra pessoa, mas sim pela sincera curiosidade sobre como andam as provas. Não existe um "manual sobre como ser parente de concurseiro". É importante, nesse contexto, não confundir cobrança com preocupação. Isso, a meu ver, viabiliza a criação de ambientes psicologicamente mais saudáveis. Como bem disse o Pablo, "Familiares, amigos e colegas de trabalho perguntam sobre isso. A resposta, por muitos anos, é “então, ainda não passei...”. É chato? Sim. Mas, em geral, não perguntam por maldade. Ficar vendo problema nisso só causa mais ansiedade. Um dia, a resposta será um glorioso “passei!”. Em geral, as pessoas só estão torcendo por você, do jeito delas. Não veja os dois ou três mal-intencionados que estão por aí (exceção) como regra". Agradeço muito pelo texto e pelas palavras! Obrigado mesmo, Pablo!

Cursei Direito na Universidade Estadual de Maringá (UEM), de 2008-2012. No final de 2010, fui chamado no concurso de técnico do TJPR. E desde o final de 2011 até agora, estive no mesmo gabinete (antes, no cível; agora, juizado). Tive a honra de trabalhar com um juiz exemplar, que considero uma inspiração desde então. Foi ali que entendi que a magistratura era meu projeto de vida.

Depois que me formei, passei uns dois anos tentando criar uma rotina de estudos. Nada funcionava. Não estudava mais do que uma hora por dia e passava semanas sem olhar para os livros.

Foi só em 2015, no começo do terceiro ano de formado, que a inquietação bateu e eu entendi que se não mudasse de vida, ia ficar parado. Então, fiz inscrição em um cursinho telepresencial. Só vi as aulas. Não estudava em casa, não revisava. Porém, só faltei a três aulas o ano todo. Também nesse ano que comecei a praticar atividade física e percebi o quanto ela se tornou um sustentáculo da minha saúde mental.

Não achei as aulas de cursinho muito produtivas. Serviram, todavia, para me colocar em uma rotina: pelo menos 3 horas por dia (usualmente 4 ou 5). Aos sábados, manhã e tarde. O domingo, apenas na semana antes da prova. Hoje, olhando para trás, percebo que isso foi essencial (estudo regular e contínuo).

Compreendi que estudar é como fazer academia: você não vai correr uma maratona no primeiro mês. Com o tempo, você vai desenvolvendo concentração para ficar muito tempo estudando. E depois de toda maratona, você precisa de uma semana para se recuperar.

Ainda, entendi que a memória é um balde furado (li isso em algum lugar). Se você não enchê-lo sempre, esvazia. Mas o estudo consolidado vai tapando alguns buracos.

Com exceção de uma prova da PGE/SP, só fiz provas da magistratura estadual:1 TJMS, 2 TJPR, 2 TJSC, 1 TJRS, 2 TJSP. Passei para duas segundas fases: a do TJRS, onde fiquei na prova de sentença; e a do segundo TJSP, na qual fui recentemente aprovado.

Como não fazia muitas provas, cada reprovação era muito sofrida, porque a próxima chance demoraria um tempo. Mas estar certo do destino final nunca me deixou desistir. Voltava para casa e passava uma semana tristão. Depois, pegava nos cadernos de novo, levantava a cabeça e continuava a estudar.

Era tabagista. No meio do caminho (final de 2017), vi que isso atrapalhava muito meu estudo (ficava constantemente ansioso). Parei de fumar, mas tive que parar de estudar por três meses, porque não conseguia me concentrar. Foi a melhor decisão da minha vida, tanto de estudos como pessoal. Foi também a mais difícil.

Agradeço ao Julio, a quem muito admiro e com quem muito aprendi em tão pouco tempo, pela oportunidade escrever aqui. Gostaria de compartilhar três lições que, para mim, foram valiosas. E enfatizo o “para mim” porque são muito pessoais. Cada um deve interpretá-las dentro de seu contexto.

A primeira delas é que concurso é uma trajetória dolorosa, mas edificante. Sempre me considerei um bom aluno, tanto no colegial quanto na faculdade. Então, formado, inocente que era, achei que passaria no primeiro concurso que prestasse. Não poderia estar mais enganado. As reprovações que a vida de concurso entrega sem dó serviram para me tornar uma pessoa humilde, que assume quando não sabe algo e pede explicações.

As reprovações também mostraram como existe muita gente competente e inteligente nesse país. Entendi que eu não sabia (e ainda não sei) quase nada; que o aprendizado é um processo permanente; e que a memória é muito falha. Não tenho vergonha nenhuma, hoje, de dizer que ainda tenho muito (mas muito mesmo!) para estudar nessa vida.

A segunda lição é que concurso é errar em público. As notas, especialmente da segunda fase em diante, saem no Instagram, diário oficial, grupos de concurso. Familiares, amigos e colegas de trabalho perguntam sobre isso. A resposta, por muitos anos, é “então, ainda não passei...”. É chato? Sim. Mas, em geral, não perguntam por maldade. Ficar vendo problema nisso só causa mais ansiedade. Um dia, a resposta será um glorioso “passei!”. Em geral, as pessoas só estão torcendo por você, do jeito delas. Não veja os dois ou três mal-intencionados que estão por aí (exceção) como regra.

A terceira lição é a importância dos amigos. São indispensáveis para a sua saúde mental. Amo muito todos os que tenho. Estiveram ao meu lado em todas as crises, comemoraram todas as conquistas, deram-me abrigo quando precisei. Ainda, os amigos concurseiros, nesse setor, serão sempre os que vão entender cada bocado da dor que é a reprovação; cada sorriso que você der quando for para a segunda fase; cada olheira que você ganhar porque anda vivendo de estudar.

Tive três grupos de estudo, além de amigos esparsos que estudavam. E foram essenciais. Dividir o sofrimento, compartilhar material, rir das piadas que só fazem sentido naquele contexto. Digo, sem dúvida, que não é a “minha aprovação”, mas a “nossa aprovação”. Sem eles, eu não teria chegado a lugar nenhum. Sou muito grato a todos.

Aos que estudam em período integral, sei que o conjunto de problemas é outro e existe, mas só posso falar da luta que conheço. Por isso, termino deixando uma mensagem aos que trabalham e estudam: não é o quanto você estuda, mas o quão produtivo seu estudo é. Eu sei o quanto é cansativo; como é pesado ter que ficar o fim de semana confinado; a dificuldade de se concentrar pensando nos problemas do trabalho; o que é comemorar um feriado porque vai poder colocar a matéria em dia; como sobra pouco ou nenhum tempo para família, amigos e relacionamentos.

Não desistam, mesmo que a aprovação demore um pouco mais. O estudo para concurso é uma vida de muitas renúncias, todas dolorosas. Mas agora, depois da aprovação, nem consigo explicar como essa felicidade vale a pena. Um abraço a todos e boa sorte nas provas!

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Um comentário:

  1. Lindo depoimento. A parte em que o Pablo relata sobre a dificuldade de ser reprovado e mesmo assim buscar ânimo para prosseguir é inspiradora.
    Parabéns pela iniciativa Julio.
    Excelente site.

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