Fases do concurso - Prova oral - Parte 4 - O silêncio robotizado antes de começar a resposta

By | dezembro 19, 2019 Leave a Comment


Dentro da temática de ROBOTIZAÇÃO, um dos aspectos que mais COSTUMA gerar ESTRANHAMENTO na banca é o silêncio prolongado antes de começar a fala. O motivo pelo qual se exorta esse silêncio (de até 15 segundos), mormente em cursos tradicionais de prova oral no mercado, é para não evidenciar exatamente quando sabe/não sabe determinado tema. 

Ocorre que, além de ser algo incomum (na comunicação cotidiana, não se percebe esse silêncio, salvo quando há delay na comunicação ao vivo de um ponto a outro, tal como sucede no Jornal Nacional), não se verifica a réplica dessa regra de “silêncio invisibilizador de vulnerabilidades” em outros contextos comunicativos sob pressão, como nos debates presidenciais, nas defesas de teses de doutorado e nas comunicações diplomáticas. 

Há examinadores que, incomodados com essa falta de naturalidade na comunicação e com a posição estática do candidato, começam a explicar a questão ou perguntar se ele entendeu mesmo. Eu mesmo já tive a oportunidade de conversar com vários examinadores que me confidenciaram o incômodo generalizado com essa prática artificial e fria. 

O começo da fala não precisa ser um tormento ou uma busca insaciável pela frase perfeita. WITTGENSTEIN desenvolve, nas Investigações Filosóficas, a ideia de jogos de linguagem e de trilho semântico. De uma forma mais direta, o termo X, para ser compreendido, precisa ser explicado. Uma vez definido X (X é composto de Y e Z), a compreensão adequada de X exigiria saber o que são Y e Z (Y é composto de Y’ e Y’’...), o que, por seu turno, também exigiria a definição de Y’ e assim sucessivamente. Ou seja, a fala é permeada por sucessivas conexões e é absolutamente inviável apontar o "início correto". Sob o prisma pragmático, que é estudado na SEMIÓTICA, as comunicações ocorrem porque as pessoas falam e outras entendem, e não porque se verbaliza o infinito. 

Assim sendo, pode-se dizer que o “ponto de começo” é livre, dependendo de ato arbitrário do comunicador. E, ao começar, (i) o processo de confiança se amplia, com maiores links e insights fluindo, (ii) ganha-se o efeito de eloquência (pensamento rápido) e (iii) neutraliza-se o tom distante de monólogo. 


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