Trajetória nos concursos - Antônio Augusto Jr.

By | julho 05, 2019 Leave a Comment

Hoje trago a emocionante trajetória do Antônio Augusto Jr, Procurador da Fazenda Nacional (@pfn.tributario.antonio). Antônio, que veio de família bem humilde e o concurso se mostrava como forma de emancipação financeira, teve enorme ousadia durante a sua jornada. Deixou de assumir o concurso de técnico para continuar como estagiário. Saiu de SP e foi morar com um amigo no Pará depois de ser consumido pela ansiedade e pelo isolamento. E conviveu com a dificuldade financeira o tempo todo. Depois da aprovação na carreira que desejava, passou a atuar como Professor de Direito Tributário e é autor de livro para concursos. Vale a pena seguir seu perfil no instagram: @pfn.tributario.antonio. Parabéns pela história, Antônio! 

Minha jornada rumo à posse em um cargo público começou quando eu sequer era estudante da graduação de Direito.

Cursava Língua Estrangeira na UFBA, morando na Residência Universitária para estudantes de baixa renda da mesma UFBA. Ali soube de histórias de estudantes de origem humilde como eu, que passaram em concursos. Um caso me chamou atenção: o de um estudante egresso da residência que havia tomado posse como Procurador do Estado do Ceará meses após ter formado em Direito. O salário inicial era algo completamente fora da realidade de minha família. Aquele caso começou a habitar meu imaginário. Era a primeira vez que eu soube de alguém que esteve em situação parecida com a minha e que havia conquistado uma posição profissional e financeira de destaque.

Decidi então estudar para concursos. Conversei com amigos que já o faziam. Depois de abandonar Língua Estrangeira e iniciar Contábeis na UFBA, decidi que o curso certo para mim era Direito. Mais uma vez estudei para o vestibular. Ia a pé duas vezes por dia do Largo da Vitória em Salvador até a biblioteca dos Barris. Não foi suficiente para ser aprovado em Direito na UFBA. Fiquei em 139º, sendo 110 vagas para não cotistas (200 no total). Ironicamente, o fato de minha mãe ter se sacrificado para pagar escola particular acabou sendo um entrave à minha entrada no curso. Por outro lado, fui aprovado entre os primeiros lugares na UESC, perto de onde sempre morei.

Após o vestibular comecei a estudar para concursos. Comecei o curso de Direito em março de 2007 com 20 anos. Minha mãe era vendedora ambulante de roupas em um bairro humilde de Itabuna e voltei a dar aulas de reforço escolar (já o fazia em Salvador) para ajudar nas despesas.

No 3º semestre fui aprovado em 9º lugar para cargo de nível médio (técnico) no MP/BA. Havia apenas uma vaga, com cadastro de reserva. No 5º semestre, passei em 1º para estagiário do MPT. No total a remuneração era mais de mil reais. Uma fortuna para mim, filho único de mãe solteira que tinha uma renda muito inferior à de um estagiário do MPT. Um ano depois, fui chamado para assumir como técnico do MP e tomei a decisão mais ousada da minha vida: iria continuar no estágio para concluir a faculdade em 5 anos e buscar uma aprovação rápida em cargo de nível superior. Desde sempre gostei de Administrativo e Tributário, sendo que a Advocacia Pública era meu objetivo final. 

No 7º semestre, consegui uma bolsa em um curso preparatório para concursos. A rotina era puxada: curso pela manhã, estágio à tarde e faculdade à noite. Saía de casa às 07:00 para o curso e só retornava às 23:00 da faculdade. O tempo para estudar era dividido entre os intervalos do curso, o deslocamento no ônibus e os finais de semana.
Em 2010, no 8º semestre, fiz a prova de Procurador Federal da AGU. Fui relativamente bem, e por pouco não tive minha prova dissertativa corrigida. 

No 9º semestre, fiz a prova de Procurador do Estado/MT. Devido a uma ajuda com passagens aéreas do meu colega de estágio e da Procuradora do Trabalho com quem trabalhei, consegui ir a Cuiabá. Acertei 86 de 100 questões e fiquei em 15º lugar na 1ª fase. A 2ª fase, porém, foi um balde de água fria: caí de 15º para 96º, e perdi muitos pontos por ter esquecido um tópico na peça prática. O 96º não era suficiente para continuar e prestar a prova oral. Apenas os 90 primeiros continuariam.

Depois que formei, em janeiro de 2012, não tinha mais a renda do estágio. Todos se conheciam no meu bairro e eu me sentia mal de não trabalhar e ficar em casa estudando enquanto minha mãe saía a pé para vender roupas. 

Decidi ir para São Paulo morar com uma tia que me ofereceu acolhida na casa dela. Com uma poupança de 14 mil reais, a aprovação era algo urgente. 

No primeiro semestre de 2012 saíram os editais de Advogado da União e Procurador da Fazenda Nacional. A paixão por direito tributário me fazia sonhar todos os dias com a aprovação no último cargo. Perdi na 1ª fase de Advogado da União e passei bem na da PFN. 

No meio do caminho, fiquei com medo de não ser aprovado e o dinheiro acabar. Alguns meses só estudando e sem muitos amigos foram o suficiente para ser consumido pela ansiedade. Pensei que poderia ser um robô e passar meses só estudando para concursos sem ter amigos, sem lazer. Errei. 

Fui então passar uns meses com um amigo do estágio que advogava no Pará. Haveria dois concursos lá: Procurador do Estado e Tribunal de Contas. Conseguir algumas ações trabalhistas no interior do Pará para levantar um recurso extra. Passei bem para a 2ª fase de PGE/PA e fiz boa prova no TCE. Em solo paraense tive duas notícias: fui convocado para a 2ª fase da PFN e haveria prova da PGE SP. Essa 1ª fase da PGE SP, contudo, seria na mesma data da prova discursiva da PGE PA, para a qual eu já estava bem colocado.

Tomei outra decisão ousada: deixaria de fazer a 2ª fase da PGE PA para voltar a morar em São Paulo e fazer a 1ª fase da PGE SP. Como minha 2ª fase na PFN seria em São Paulo, onde me inscrevi, não poderia ficar indo e voltando para o Pará me dividindo entre provas da PFN e da PGE PA. Além disso, a PGE SP oferecia 100 vagas. 

Fiz uma boa 1ª fase na PGE SP e fui para a discursiva. Em novembro de 2012 fiz a 2ª fase da PFN. A pressão era enorme. Além da fragilidade financeira, era o cargo que me ofereceria várias possibilidades de atuação com direito tributário. Fora a possibilidade de lotação em várias regiões do Brasil, por ser um concurso nacional.

Por 6 décimos perdi na discursiva da PGE SP. Com folga, fui para a prova oral da PFN. A felicidade era enorme. Estava perto da aprovação no concurso que sempre quis. 

No meio do caminho o TCE/PA me chamou para assumir como assessor (nível superior), faltando pouco para a prova oral da PFN. Para minha sorte, o Pará permitia a prorrogação do prazo da posse por um mês. A prova oral da PFN seria 19/2/13, e o limite da prorrogação seria final de fevereiro. Fui para a prova oral em Brasília e de lá direto para Belém. Meus pertences seriam enviados depois.

A prova oral da PFN em si já renderia um depoimento por si só, que fica para outra oportunidade. Aqui basta dizer que foi o meu melhor momento como concurseiro. Apesar da ansiedade, eu estava no ambiente que seria o mais natural para mim: expor os temas estudados utilizando voz e gestos. Sempre gostei de dar aula, desde os meus 14 anos, quando comecei a dar aulas de reforço escolar. 

Trabalhando no TCE/PA, recebo a notícia de minha aprovação na PFN. Ironicamente, não pulei de alegria. Talvez porque já esperava, talvez porque aquele sucesso fazia parte de um cenário maior com várias derrotas. A notícia de aprovação me causou uma felicidade menor do que o exame de arguição presencial na última fase da PFN.  

Hoje, além do trabalho de pesquisa e construção de teses nos processos sob Acompanhamento Especial da PFN, também tenho uma paixão por escrever livros para concursos e, principalmente, por lecionar. A mera possibilidade de contribuir para alguém que hoje tem o mesmo objetivo que eu tive durante vários anos é uma satisfação e uma felicidade sem tamanho.

Ainda me considero em um ciclo contínuo de estudos e de aprendizado, e fico feliz quando tenho um dia muito produtivo de estudos, seja quando descubro argumentos de teses relevantes para a PFN, seja quando consigo escrever uma explicação didática em um texto para concursos.

E é assim que eu gostaria de definir uma jornada de sucesso rumo á aprovação. 

Não é o momento da aprovação, da notícia, do seu nome no Diário Oficial. 

É a soma de vários momentos de estudo e concentração nos passos a serem percorridos durante o caminho.



Postagem mais recente Postagem mais antiga Página inicial

0 Comments: