Trajetória nos concursos - Leonardo Issa Halah

By | abril 05, 2019 1 comment

Trago hoje a trajetória nos concursos do amigo Leonardo Issa, juiz do TJSP com apenas 25 anos. O Leonardo é uma daquelas pessoas com as quais um pequeno contato já é suficiente para perceber a integridade, sensibilidade e inteligência. Como ele disse, fizemos a parte do psicotécnico do TJSP juntos. Ali, contando histórias e ouvindo, pude perceber o quão vocacionado era o Leonardo para a magistratura, com uma leitura profundamente humanizada das experiências que viu e viveu. O relato do Leonardo demonstra a enorme importância da autonomia no estudo para concursos: o método existe para ajudar, e não para sufocar. Analisou criticamente tudo o que era ofertado de acordo com o próprio perfil. E vivenciou a lição de que às vezes os jogos que aparentam ser os mais fáceis são, na prática, os mais difíceis. Experiente já em trabalhar com sentenças cíveis, obteve melhor nota na sentença criminal. Muito obrigado, Leonardo!


Bom, o Júlio me pediu pra contar um pouco da minha trajetória nos concursos até a minha aprovação no TJSP ano passado, aos 25 anos. Antes de tudo, queria dizer que tenho um orgulho imenso de ter sido colega dele, ainda que por poucos meses. Como nossos nomes são próximos na ordem alfabética, acabamos ficando no mesmo grupo do exame psicotécnico do concurso, antes da prova oral. Foram só 3 dias, mas ali já deu pra perceber que o Júlio era um cara sensacional, tanto intelectualmente quanto no caráter. E, como era de se esperar, essa primeira impressão se confirmou durante o curso de formação. Quando recebi o vídeo do discurso de posse dele no MPF, parei o que estava fazendo pra assistir, porque sabia que seria brilhante. Não me arrependi: era um misto de erudição, coragem e humildade, além de uma oratória invejável. Recomendo fortemente.

Sempre que me perguntam como estudei e qual caminho percorri até a aprovação, tento deixar uma coisa bem clara de antemão. A minha história é só uma história que felizmente deu certo, não é um manual de sucesso. Longe disso, até porque as dificuldades que cada um enfrenta no percurso são muito diversas, a depender das condições pessoais, familiares, financeiras, sociais, etc. Aliás, com todo o respeito a quem pensa diferente, acredito sinceramente que não existe um manual de sucesso. Não existe um método certo de estudo. Claro que alguns métodos funcionam estatisticamente para mais pessoas, isso é inegável, mas cada um tem que descobrir o que funciona melhor para si. Cansei de ouvir, por exemplo, que nunca passaria em primeira fase se não lesse “lei seca”. Confesso que tentei uns dias, mas não adiantava. Além de ser um sofrimento, era, para mim, perda de tempo. Simplesmente não conseguia absorver o conteúdo e isso me trazia uma angústia enorme, até porque desde a faculdade eu tinha essa dificuldade. Também diferentemente da grande maioria dos concurseiros, eu tinha dificuldade de estudar sentado em cadeira e mesa. Curiosamente, me dava sono. Sempre gostei de estudar deitado no sofá ou na cama.

Decidi então que continuaria ouvindo dicas e conselhos sobre como estudar, mas respeitaria as minhas próprias peculiaridades. Desisti de comprar Vade Mecum (comprei meu primeiro Vade Mecum só pra levar na segunda fase do concurso) e desisti de estudar sentado. Deitava na minha cama, colocava o notebook no colo e lia meus materiais. Sem grifar nem nada, porque também nunca gostei nem soube grifar as coisas. Enfim, em vez de me adaptar aos métodos dos outros, adaptei-os a mim. E acabou dando certo, apesar do colchão afundado e das dores na coluna.

Colei grau na Faculdade de Direito da USP – Largo São Francisco em dezembro de 2014. Imediatamente voltei pra minha cidade natal (Ribeirão Preto-SP) e comecei um cursinho (LFG Carreiras Jurídicas). Assistia às aulas de manhã, anotava no notebook e depois estudava a matéria do dia quando chegava em casa, fazendo também algumas questões no Qconcursos pra fixar o conteúdo. Fiz isso durante o ano de 2015. Em 2016 me matriculei no curso semestral de Magistratura estadual do Damásio para ter as matérias que não havia tido no curso do LFG (consumidor, ECA, eleitoral, ambiental, etc). Segui o mesmo método. Nesse período eu advogava em alguns casos, mas dedicava a maior parte do tempo aos estudos.

A partir do segundo semestre de 2016 comecei a estudar sozinho relendo apenas os cadernos e fazendo questões (muitas, para compensar o fato de que eu não lia “lei seca”), acompanhando o cronograma do Edital Esquematizado do Eduardo Gonçalves. Para atualizar a jurisprudência, seguia o Dizer o Direito. Em novembro comecei a trabalhar como escrevente do TJSP e em abril de 2017 passei para assistente de um juiz, cargo em que fiquei até a posse na magistratura, que ocorreu em outubro de 2018. Estudava cerca de 2h antes do trabalho e 2h depois (uma matéria de manhã e outra à noite). Aos finais de semana e feriados estudava quase sempre também, tirando os atrasos que haviam ficado durante a semana. Deixava um período para descansar, geralmente a tarde de domingo.

Quando passei para a segunda fase, continuei lendo meus cadernos, mas acrescentei a isso o treino de sentenças e questões abertas, além do estudo de humanística e da pesquisa sobre os examinadores da banca. Fiz o curso do CPIuris para segunda fase. Se eu puder dar um conselho, não subestimem a área que vocês acham que dominam mais. Como quase toda a minha experiência profissional era em Direito Civil e eu fazia várias sentenças cíveis todos os dias no trabalho, deixei o treino de sentenças cíveis um pouco de lado. Foquei na penal, área em que eu não tinha nenhuma experiência profissional. Por pouco não reprovei justamente na sentença cível (passei com 6, nota mínima). Na penal, que era meu maior medo, acabei tirando 9,5. A sentença de uma prova de concurso é bem diferente de uma sentença do dia a dia.

Na prova oral, também continuei com a leitura dos cadernos, acrescentando a isso as simulações de prova presenciais e por Skype, principalmente com o pessoal do concurso e alguns amigos. Fiz o curso do Marcelo Lage por Skype e um simulado de banca com o pessoal do Juriscursos.
Prestei 4 concursos.

O primeiro foi o TJSP 186, em agosto de 2015. Tinha acabado de me formar e sabia que não tinha a menor condição de passar sequer da primeira fase, mas fiz a prova para ver como era e perder o medo. Foi bastante importante para perceber que, apesar de difícil, não era impossível.
Em 2017 fiz o TJPR. Passei na primeira fase, mas acabei reprovando na prova discursiva por 0,05. Recorri, mas não consegui aumentar a nota.
Em 2017 também fiz o TJSC. Reprovei na primeira fase por 1 ponto.
Em 2017 fiz por último o TJSP 187, no qual acabei sendo aprovado até o final.

Enfim, resumidamente acho que era isso que eu tinha a dizer. As únicas unanimidades dentre os aprovados são a persistência e a disciplina (e acompanhar o Dizer o Direito rs). Método cada um tem o seu. Boa sorte a todos e não desistam jamais. Vale a pena =)
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