Trajetória nos concursos - Vinicius Nocetti Caparelli

By | março 17, 2019 3 comments



A trajetória de hoje é do amigo Vinícius, juiz do TJSP. O relato evidencia três grandes dificuldades de muitos estudantes: conciliar estudo com trabalho, custos das provas e as renúncias familiares. Vinícius, casado e com filhos, conseguiu identificar o método que melhor funcionava para ele. Após um tempo sem estudo específico para concursos, a inquietação foi o motor decisivo para uma retomada eficiente! Obrigado, Vinícius!

Em outros relatos eu contei um pouco da minha história pessoal, dificuldades e perdas durante a adolescência e início da vida adulta. Agora pretendo contar um pouco mais sobre a rotina de estudos (e como conciliei com trabalho,  família,  filhos). Diferentemente da grande maioria das pessoas que conheço,  não iniciei os estudos para a magistratura durante ou logo após terminar a faculdade.  Fiquei praticamente 3 anos sem tocar em um único livro,  esperando a inspiração bater, a vontade aparecer, acomodado com uma vida relativamente tranquila.  Estava empregado, servidor público,  atuando como assessor de gabinete de uma juíza sensacional.  Casado, com 2 filhos, mas faltava alguma coisa.

E no fim de 2014, início de 2015, essa inquietação foi crescendo, eu precisava me mexer,  precisava de mais... minha vida não podia ser aquilo pelos próximos 40, 50 anos. Não que eu ache que há algo de errado nisso, pois não há,  mas aquele desejo adormecido de me tornar juiz foi despertando,  tomando conta, fazendo eu me sentir infeliz por nem ao menos tentar.

Então eu comprei um livro de “como estudar “, passei 2 semanas analisando métodos,  vendo modelos de cronogramas, lendo relatos de aprovados, e decidi tentar. Peguei um livro de Processo Penal emprestado (Nucci) e comecei a ler. Dias depois, já estava cansando da matéria,  e resolvi intercalar com um livro de Direito Administrativo.  Mas a leitura pela doutrina é lenta, fazer resumos também.  Então organizei um cronograma com todas as matérias,  sendo que a leitura predominante era de lei seca.

Eu trabalhava das 12 às 19h, mas ainda não tinha me organizado completamente, não conseguia estudar mais de 4h por dia. 2 horas de manhã e 2 horas a noite.  Nunca mais de 2 horas a mesma matéria,  pra não enjoar. Pra cada 50 minutos de estudo,  eu parava 10 (uma variação do método pomodoro).

Eu tentava fazer questões (de livros e sites) das matérias que tinha estudado recentemente. Fazia várias provas anteriores também,  pra simular uma situação real.

Na minha primeira prova (TJSC 2015) fiquei arrasado. Eu achava que estava bem, mas fiz menos de 60 pontos mais de 10 pontos abaixo do corte. Fiquei triste por um dia, depois segui com mais gana. Um mês depois eu passei na primeira fase do TJSP 2015. Em dezembro do mesmo ano também passei pra segunda fase do TJPI.

Eu havia encontrado um método eficaz, mas ainda não tinha identificado exatamente o que me fez melhorar tanto em tão pouco tempo. Por isso, em 2016 reprovei na objetiva do TJDF, TJRJ, TJRS.
Em 2017 passei na prova oral do TJPI (mas não fui nomeado em razão da classificação), passe no TJPR com 82 pontos e no TJSP com 84.

Eu já estava exausto,  mas a força pra continuar vinha da lembrança daquele tempo em que eu era infeliz por nem ao menos tentar. 

Eu percebi que, nas provas objetivas,  meu desempenho aumentava muito quando eu fazia uma leitura de TUDO no mês anterior da prova. Lia as súmulas,  leis pequenas, resumos de jurisprudência,  sinopses pequenas. Na hora dessa leitura, parece que não apreendemos nada. Mas no momento da prova, vi que fez a diferença.

Muitos me perguntam sobre o método de estudos. Isso é muito particular.  Não conheço ninguém que tenha estudado de maneira exatamente igual ao outro. O que eu seguia era o cronograma,  respeitava as disciplinas do dia,  mas as vezes lia lei seca, quando cansava ia pra doutrina, sinopse, questões.  No início eu fazia mais questões,  depois passei a reduzir um pouco, normalmente destinava um dia só da semana.

A fase discursiva é diferente,  precisa de um estudo mais concentrado, focado nos examinadores.  É importante ler o material publicado por eles, é importante treinar questões e sentenças pra controlar o tempo.

E durante todo esse tempo eu tive que conciliar os estudos com trabalho,  família,  filhos.  Foi difícil,  os concursos demandam muitas despesas (inscrição,  passagens, hospedagens, alimentação). Fiz o melhor que eu pude, mas minha mulher também segurou a barra em casa... me deixou livre para estudar, entendeu e mergulhou junto nesse sonho. Deixamos de fazer muitas coisas, foram muitas privações,  muitas mesmo. Chegou o momento que meu orçamento não comportava as contas da casa e dos concursos, tive que escolher quais contas pagar para conseguir continuar estudando, e ela e os meninos que sofreram também essa consequência. 

Eu tinha que estudar e tentar ficar com a cabeça livre, mas era difícil sabendo que teria que me virar com tudo isso.

Quando passei nas sentenças do TJSP, fiquei feliz e aterrorizado. Teria que viajar pra SP várias outras vezes, com um custo que não estava planejado, sabendo que o TJSP é um dos tribunais que mais reprova na oral.

Fiz a prova oral, no meio desse turbilhão de preocupações,  no dia 31/07/2018. Várias pessoas que assistiram disseram que fui bem, mas no fundo eu não sentia isso. Pensava que havia reprovado.  Os piores dias da minha vida foram da data da prova até o resultado,  dia 08/08/2018.

Não fui ver a sessão,  fiquei apreensivo em casa, e o desespero aumentou quando vi que muitas pessoas que eu conhecia e eram realmente boas estavam reprovando. Até que chegou a minha vez e a minha amiga, hoje também juíza,  Flávia,  mandou minha notas pelo Whatsapp e escreveu “PASSOU". Eu estava na sala, minha mulher apreensiva no quarto, e gritei “PASSEEEEEI". E nesse momento eu chorei,  chorei como uma criança,  passou o filme de toda a renúncia,  todo o sofrimento... E agradeci por ter, de forma despretensiosa,  começado a ler aquele livro de processo penal entre o fim de 2014 e começo de 2015.

Hoje estou realizado, fazendo o que amo,  e pronto pra ajudar, da forma como for possível,  todos que estão nessa luta, nessa batalha, que eu sei muito bem como é. 


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