Círculo vicioso e a grama do vizinho


Conheço vários aprovados para os quais a parte mais difícil era a vida de concurseiro; e que, depois de tomarem posse, com diversos desafios, muitos dos quais invisíveis do ponto de vista anterior, passaram a achar que a vida de concurseiro era melhor.


No mundo dos concursos (e fora dele), muitas vezes apresentamos a tendência de diminuirmos a nossa experiência e de hipertrofiarmos a experiência alheia. A convicção sobre o outro, no entanto, é um luxo para quem apenas observa. 


Machado de Assis, no poema "Círculo Vicioso", ilustrou como a insatisfação com o que se é e o desejo de se tornar outra coisa é, na verdade, infinito:



Bailando no ar, gemia inquieto vaga-lume:

— “Quem me dera que fosse aquela loura estrela,

Que arde no eterno azul, como uma eterna vela!”

Mas a estrela, fitando a lua, com ciúme:


— “Pudesse eu copiar o transparente lume,

Que, da grega coluna à gótica janela,

Contemplou, suspirosa, a fronte amada e bela!”

Mas a lua, fitando o sol, com azedume:


— “Mísera! tivesse eu aquela enorme, aquela

Claridade imortal, que toda a luz resume!”

Mas o sol, inclinando a rútila capela:


— “Pesa-me esta brilhante auréola de nume…

Enfara-me esta azul e desmedida umbela…

Por que não nasci eu um simples vaga-lume?”



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