O estudo para concurso é uma maratona, não um sprint - Por Heitor Moreira de Oliveira

By | dezembro 17, 2020 Leave a Comment

 






Um texto que já nasce clássico! De forma muita sincera e contextualizada o amigo Heitor (@heitorhmo), juiz do TJSP, escreveu um texto que simboliza muito a luta nos concursos: não sabemos o resultado, mas precisamos entregar muito esforço, sacrifício... Um texto amadurecido, pensado nos detalhes, que concretiza muito essa metáfora de que o estudo para concurso é uma maratona, não um "sprint". Tudo, somado, permite que enfrentemos longos quilômetros! Não é só inspiração: é também condicionamento; não é de uma hora para outra: é um processo; e, ao final, fazemos o que compete a nós. Vale muito a pena a leitura e salvar/compartilhar o texto, porque, certamente, é um dos melhores textos já escritos sobre concursos públicos! Parabéns, @heitorhmo 👏👏


Olá, meu nome é Heitor. Sou natural de Goiânia-GO. Cursei Direito na Universidade Federal de Goiás. Atualmente sou Juiz no Estado de São Paulo. Anteriormente, fui Escrevente Judiciário no Tribunal de Justiça do Estado de Goiás, onde também atuei como Conciliador voluntário, e Analista de Controle Externo junto ao Tribunal de Contas do Estado de Goiás.

Tenho 29 anos de idade e desde os 15 anos tenho o hábito de correr na rua. Costumeiramente corro de 5 a 10 km na pista de corrida perto de casa. Certa vez ouvi uma reflexão que dizia algo assim: estudar para concurso público é uma maratona, não um “sprint”. Definitivamente, sim. Já participei de muitas corridas e em várias delas vi garotos jovens disparando logo no início da prova e, tempos depois, sendo superados por senhores de 60/70 anos. Estudei por cerca de quatro anos para o concurso que sempre almejei (magistratura) e, durante essa longa caminhada, também vi muitos amigos e conhecidos disparando na frente, estudando horas e horas, devorando livros, e, depois de alguns meses, ficando no meio do caminho. A meu ver, não há uma resposta certa/adequada sobre como estudar para concurso obtendo êxito. Justamente por isso, reluto um pouco em contar a minha trajetória, que é tão particular, como particulares são as de todos que aqui já narraram suas histórias. O que serviu para mim não necessariamente será adequado para todos. Entretanto, se nem tudo se aplica integralmente, acredito que alguns pontos podem ser de valia para aqueles que estão estudando para concursos. O primeiro é justamente esse: resistência e perseverança. Tenho costume de brincar que o método mágico para aprovação é só um: sentar a bunda na cadeira e estudar. No primeiro dia, você estará empolgado, em êxtase pelo início da caminhada. Mas, o segredo é exatamente continuar. Não parar. Como dizia o Pensador: “Vai em frente, sem parar que se parar você cai! Vai em frente, enfrente, enfrenta, vai!”. Lutadores são aqueles que começam a estudar no dia 1º de janeiro de 2020 (hipoteticamente) e continuam, no mesmo ritmo ou até maior, no dia 05 de agosto de 2020, 20 de fevereiro de 2021, 15 de setembro de 2021, 30 de março de 2022 etc. etc. etc. Sem parar. Afinal, acredito, não é em um dia que você adquire o conhecimento necessário para a aprovação. O conhecimento vem calcado com muita (muita) repetição, ao longo de anos (não são dias, nem meses, são anos). A cada tropeço, a cada reprovação, a cada exercício errado, a sua mente vai pavimentando trilhas e conexões que, após tantos anos, te leva ao amadurecimento necessário, não só intelectual, mas também psicológico/emocional. De fato, perseverar por anos e anos requer muita entrega e muito equilíbrio. Estudei por cerca de quatro anos e tive meus momentos de altos e baixos. Reprovei na prova de sentença do TRF2 e, logo após o baque, passei por um período de questionamentos no qual não suportava abrir um livro. Busquei o reequilíbrio emocional e depois voltei aos estudos. “Se parar você cai, se cair cê levanta”.

A par da resistência e da perseverança, acredito ser fundamental a disciplina e a estratégia. E, nesse ponto, como disse, acho que cada experiência é muito particular. Quando estudava freneticamente para os concursos, ouvia uma teoria que dizia: “não estude doutrina, o melhor é fazer exercícios”. Ok, pode até ser que para 90% das pessoas isso seja válido, mas não acredito ser esse um dogma universal. No meu caso, para sanar o déficit de conteúdo da graduação em algumas disciplinas, nos dois primeiros anos de maratona estudei, basicamente, só por doutrina. Algumas mais densas, outras mais voltadas para concurso. Nesse mesmo período, fiz um cursinho anual do LFG, que para mim foi de grande valia. Assim, supri lacunas e sistematizei conhecimentos cotejando a leitura da doutrina com as aulas de cursinho. No terceiro e no quarto anos deixei a doutrina de lado, passei a rever toda a matéria, estudar por sinopses, devorar o site do Dizer o Direito e a fazer muitos exercícios. Dessa forma, agreguei ao conhecimento mais denso dos primeiros anos um saber mais sistemático e voltado diretamente para os concursos. Para caminhar durante esses quatro anos e alcançar o objetivo de tatear a maior parte possível de conteúdo, foi preciso muita disciplina. Seguir uma linha crescente das matérias. Afinal, uma hora é preciso sair de Inquérito Policial e Ação Penal e avançar em Direito Processual Penal etc. É preciso estudar a Parte Especial do Código Penal. E para avançar nas matérias fiz cronogramas que me comprometi a seguir. Além disso, foi preciso tornar proveitoso o tempo de estudo e, também, conhecer as minhas próprias fraquezas e limitações. Nesse sentido, logo descobri que não rendia bem se não dormisse 6h por dia. Dormidas as 6h, o estudo era muito válido. O que avançava para aquém disso já não era tão satisfatório. Por isso, estabeleci como padrão 6h de sono diárias. Geralmente, dormia às 22h e acordava às 4h da manhã para estudar. Mas, por vezes dormi às 20h e acordei às 2h etc. Repito: não sei até que ponto essa experiência poderia ser replicada em outras pessoas. Porém, o importante é isso: conhecer a si mesmo, respeitar e se adaptar às suas limitações, tentando entendê-las e contorná-las na medida do possível. Estudar para concurso é uma maratona, é quase uma viagem. E para vencer a maratona é preciso pensar em mecanismos de suportar a pressão no km 7, no km 16, no km 22, no km 28, no km 33, no km 37, no km 42. É preciso estratégia.

É necessário, também, um senso de adaptação. Como disse, o estudo para concurso é uma maratona, isto é, um projeto de médio a longo prazo e que, por isso, requer planejamento. Mas, mesmo com o máximo de planejamento que possamos ter, sempre surgirão imprevistos e é preciso saber lidar com eles. Afinal, em tão longo tempo (no meu caso, 4 anos, em outros mais, em outros menos) como a nossa vida pode mudar, não é mesmo? Eu comecei minha caminhada no TJGO, depois comecei a trabalhar no TCE-GO. No meio do caminho me casei, sai da casa dos meus pais. A cada mudança, é preciso adaptação à nova realidade. E nesse ponto não adianta espernear: ou você se adapta ou você se sucumbe. A propósito, durante os quatro anos em que estudei para o concurso da magistratura eu sempre trabalhei. Sempre. Nunca tive tempo de sobra, tempo ocioso. E precisei equilibrar o tempo de estudo com a dedicação ao trabalho. Enfim, precisei me adaptar à minha realidade. Investi na produtividade e na qualidade do tempo de estudo. Foi preciso aproveitar ao máximo cada minuto de estudo. Precisei ter estratégia para encaixar o melhor horário de estudo, de acordo com as minhas características pessoais. Assim, como trabalha no turno vespertino, das 13 às 19 horas, decidi dedicar aos estudos pela manhã. Geralmente, acordava às 4h e estudava até 12h30min. Chegava em casa por volta das 19h30 e continua os estudos até as 22h. No início, tentei avançar para além das 22h, mas logo me dei conta de que meu corpo já estava cansado com o dia de serviço e que renderia mais se dormisse mais cedo para, também, acordar mais cedo, descansado. E assim fui me adaptando.

Prometi ao estimado amigo Júlio que contaria um pouco da minha trajetória. Demorei a me desincumbir do encargo principalmente porque, como disse, cada história é muito peculiar e a minha assim o foi também. Mas, quando vejo amigos, colegas e conhecidos que também lograram êxito na aprovação para concursos concorridíssimos sempre observo alguns pontos em comum: resistência, perseverança, disciplina, estratégia e adaptação. É preciso ter ciência de que estudar para concurso não é algo para aventureiros. Não é algo que se alcance do dia para a noite. É um processo. Aliás, é um processo doloroso, que envolve muito (muito) sofrimento e é preciso ter força e vontade para superar dia após dia após dia após dia.

Por fim, gostaria de deixar apenas um pensamento positivo que muito me ajudou durante a minha caminhada. No cursinho do LFG, o Professor Pablo Stolze parafraseava um ditado de uma tribo africana que dizia assim: “A vitória pertence aos deuses, festejemos a luta”. E, de fato, é isso: mais importante do que o objetivo em si e viver, em absoluto, o caminho, a trajetória. É ter a consciência limpa de que, mesmo que não venha a aprovação, a nossa parte nós fizemos: nós sentamos a bunda na cadeira e estudamos. Mais gratificante do que a vitória é saber o quão doloroso, mas compensador, foi a luta. Ouvir o Desembargador Presidente dizer o seu nome na lista de aprovados é muito melhor do que qualquer prêmio aleatório (sorte): é olhar para trás e pensar nas noites e noites em que você acordou 4h da manhã para estudar e, apesar de todos os tropeços, recomeçou e não desistiu. É a vitória como consequência da luta – da boa luta.

O que posso deixar de mensagem aos que me leram é isto: tenha ciência de que qualquer resultado compreende, necessariamente, um grande iceberg anterior: uma caminhada longa. Anos e anos. Quilômetros e quilômetros. E a vitória virá a cada dia em que você continuar lutando, sem parar.
Postagem mais recente Postagem mais antiga Página inicial

0 Comments: