Trajetória nos concursos - Nayara Galhardo Souza de Lima

By | novembro 27, 2020 Leave a Comment

 





Trago hoje a trajetória de Nayara Galhardo Souza de Lima, aprovada para promotora do MPMT! Tive a oportunidade de conhecer a Nayara e seu esposo no curso de prova oral e o que ficou muito claro desde o início é essa forte conexão entre os dois: torcem juntos, viajam juntos, choram juntos! E treinam juntos até no dia D da prova oral do MPMT! Ao final, deu tudo certo, com a percepção de que concurso tem mais relação com a capacidade de suportar derrotas do que com a genialidade inata. Como bem disse a Nayara, "quem passa não é só quem nasce com um dom excepcional ou uma inteligência acima da média. Quem passa é quem não desistiu, quem lutou com as forças que tinha, que chorou muito por causa de tropeços incontáveis antes de chorar de alegria". Parabéns, Nayara! E obrigado pela confiança! Muitas felicidades na nova carreira!



Assim como a grande maioria das trajetórias que o querido Júlio posta, a frase que inicia a minha é: eu simplesmente sonhava com o dia em que seria o meu nome ali em cima! 
Bom, sou a Nayara Galhardo Souza de Lima, e fui aprovada no Concurso para Promotor (a) de Justiça Substituto (a) do MPE-MT (2019/20). 
Confesso que a “ficha” ainda não caiu. 
Terminei a faculdade (Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul) em 2010. Nem de longe era uma aluna exemplar, ou que significa que não comecei a estudar, de fato, durante aquele período. Enquanto universitária, estagiava voluntariamente no Cartório Judicial da pequena Comarca onde morava, e, posteriormente, passei em um concurso para estágio remunerado, pelo TJMS, o que me conferiu a experiência de trabalhar no gabinete do Juiz por um breve período. Logo depois, passei em outro concurso para estágio na Defensoria Pública Estadual, e foi a partir daí que o amor pelo Direito realmente aflorou no meu coração. Deste momento em diante, senti que havia escolhido o curso certo. Após terminar a faculdade, fui nomeada Assessora na mesma Instituição, cargo em comissão que ocupei até meados de 2017. 
Enquanto trabalhava, não consegui me dedicar aos estudos para concurso, embora este fosse um sonho que sempre me acompanhou. Casei-me ainda em 2017, ao mesmo tempo em que pedi exoneração. Começava, então, realmente, a vida de concurseira, que engrenou mesmo lá pelos idos de 2018, com cursos em vídeo e tudo mais que o início desta caminhada exige. Meu esposo, que já passou por isso tudo, foi a peça-chave para a vitória, já que absolutamente todos os passos dados até aqui foram acompanhados por uma incansável dedicação da parte dele com a minha aprovação (cursos, livros, passagens, hotéis, e, óbvio, o apoio moral incansável e a paciência de Jó, rs...); portanto, deixo registrada minha gratidão por todo o empenho dele em tornar realidade aquele sonho, antes tão distante. 
Como todo começo, os tropeços foram dolorosos. A primeira prova que fiz foi para Delegado (a) aqui no MS, e reprovei na objetiva por uns 3 ou 4 pontos. Pensei que estaria aprovada no próximo concurso que prestasse. 
Que inocência de principiante! 
Fiz a prova do MPE-MS no mesmo ano, e o resultado da minha prova objetiva foi um fiasco tão grande, e uma queda tão brusca, que realmente me deixou no chão por alguns segundos - quase um nocaute. Nunca havia ido tão mal, nem quando fazia provas antes, só “por fazer”.
Mais uma vez, meu esposo me levantou e me mostrou o vídeo do pênalti perdido na copa de 94 pelo então melhor jogador do mundo, Baggio, que custou para a Itália o título daquele ano. Era uma metáfora para me mostrar que absolutamente TODOS têm maus resultados na vida. 
Prossegui. Outras provas importantes vieram, até que, em 2018 mesmo, veio a primeira aprovação para a segunda fase: TJMG – Juiz Substituto. Eu mal podia acreditar! Fiz cursos para a discursiva e para as sentenças, estudei os examinadores e fui fazer as provas. Passei na Discursiva e na Sentença Cível, mas a Sentença Criminal exigiu o reconhecimento de uma (questionável) menoridade relativa que eu havia, de fato, rascunhado, mas não passei para a resposta definitiva, o que causou um efeito-cascata e acabei reprovando por alguns décimos. 
Segue o jogo. 
Outras tantas provas objetivas vieram (eu parei de contar quantas)... Sempre tive um déficit de leitura de lei seca que fui corrigindo aos poucos. A segunda aprovação foi em 2019, na Defensoria Pública de São Paulo, que é uma primeira fase bem diferente das outras provas que havia feito. E, novamente, alguns décimos não me permitiram prosseguir para a fase oral. Depois disso, fiz 80 pontos na objetiva do MPE-SP, cujo corte foi 82. Por consequência, não fui para a segunda fase, mas estava melhorando exponencialmente meu desempenho, já sabendo aparar arestas e identificando meus maiores “inimigos”, ou seja, os pontos em que eu tinha maior dificuldade. 
Em 2019, finalmente, veio o MPE-MT. Corte astronômico na primeira fase (85 pontos), e eu fiz 87. O gabarito saiu muito rápido, e eu comemorei ainda no avião, voltando pra casa... Foi, de longe, meu melhor resultado! Assim, outra segunda fase chegando, e, com ela, a mesma ansiedade das outras duas em que não passei. Lembrei, na hora, daquele tombo meteórico no MPE-MS, e pensei: as coisas mudam quando a gente não desiste. 
Aqui, um parêntese: Além do pênalti perdido do Baggio na vida real, na ficção, Rocky Balboa foi um personagem que me acompanhou desde o início, e eu pensava naquela famosa cena dele com o filho - a vida vai te deixar de joelhos se você permitir. Eu não havia permitido! 
A segunda fase do MPE-MT foi realmente extenuante: dois dias de prova, nos dois turnos, peças e questões em todos eles. Estava confiante, mas era a primeira vez que faria provas escritas formuladas pela FCC, já que as outras das quais participei (DPESP e TJMG) foram confeccionadas pela Banca própria. O medo era uma constante, já que, quando é assim, a gente não conhece o “examinador”, suas predileções e possíveis apostas de temas. Pois bem. No último dia de prova aconteceu um incidente: uma pequena rã (ou um sapinho, não sei exatamente) pulou bem na minha carteira! Eu consegui manter a calma (até hoje não sei como) e chamei a fiscal, que chamou outro fiscal, que retirou a pequena intrusa dali. Aquilo – o fato de não ter perdido a calma e nem o raciocínio numa situação tão inusitada - para mim, foi um ‘sinal’ de que tudo ficaria bem. Quando o resultado da segunda fase saiu e eu estava na lista, minha reação foi ajoelhar e chorar de alegria. Eu estava na fase oral! Aquilo era algo tão grande que não cabia em mim... A emoção é algo indescritível. Meu esposo, que me segurou no colo naquele primeiro tombo, lá atrás, estava agora no chão comigo chorando de felicidade. Prova oral marcada para março de 2020. Nervos à flor da pele. Preparação, inscrição definitiva...
BUM! PANDEMIA. COVID-19.
Incertezas, adiamentos... Ninguém tinha mais nenhuma noção de quando a prova seria marcada. Na verdade, ninguém tinha mais certeza de absolutamente nada, já que todos foram pegos de surpresa por esta doença terrível que tirou tantas vidas e trouxe consigo uma tristeza inenarrável. 
Além da ansiedade com a prova, a apreensão com a saúde e a segurança das pessoas que a gente ama foi uma constante desde então. Confesso que os estudos foram um salva-vidas para mim durante esse tempo: enquanto eu estudava, não pensava em mais nada, ocupava a mente. Resolvi fazer uma restrição: “dieta de notícias”. Só ia me atualizando diariamente da situação em geral e, principalmente, de como estavam as pessoas que eu amo. Parei de ver telejornais e não lia muitas notícias na internet. Aquilo estava me matando por dentro, assim como a todos os outros.
Depois de tudo, prova marcada! 
Eu havia feito o curso com o professor Júlio em São Paulo, no início de 2020, e, depois, vários treinos individuais via Skype. Uma grata amizade que surgiu durante esse tempo, além de tudo. Cheguei ao curso com medo, ao que parece eu havia esquecido completamente como usar a habilidade da fala... 
Foi, realmente, um divisor de águas na minha autoconfiança, segurança, e, principalmente, na desmistificação dessa fase tão aguardada e tão temida. O candidato se acostuma com as objetivas, e, até mesmo, com as discursivas/práticas, mas a prova oral é quase esotérica. Júlio explica tudo com tanta naturalidade e simplicidade, que a gente até esquece o tamanho do medo que sente. 
O estudo nessa fase é um misto de prova objetiva com discursiva, só que a gente tem que adquirir a habilidade de expor, falando, aquilo que sabe. E é aí que o negócio fica difícil. A síndrome do impostor ataca de tempos em tempos, e esse é um fantasma a ser exorcizado a todo momento. É uma coisa séria! 
Bom, zebra não derrota leão. Às vezes apenas repetia isso para mim mesma para afastar o tal impostor que chegava sem avisar.
Tive um pouco de dificuldade para ter coragem de treinar com os colegas (timidez no modo “hard”), mas isso também foi sendo corrigido com o tempo.
Treinei bastante com meu esposo também, um dia antes da prova, inclusive.
Por fim, o “dia D”. 
Com todos os meus 32 anos de existência e um salto alto que há tanto tempo não calçava (concurseiro raiz vive de pijama mesmo), peguei tudo que sabia, tudo que aprendi, e fui. No corredor até a cadeira de arguição, uma frase ecoava na minha cabeça: EU QUERO OS DOZE PASSOS, COZINHEIRO! (Filme - Homens de Honra).
Enfim, aqui estou, aprovada, e com um sentimento de gratidão que é maior que tudo...
Na jornada aprendi a filtrar muito “lixo” que aparece na internet, principalmente os perfis tóxicos de concurso nas redes sociais (que sempre mostram uma mesa impecavelmente arrumada e canetas Stabilo de todas as cores e modelos), ou aqueles que prometem trazer o concurso amado em 7 dias com os métodos infalíveis que, na verdade, não servem a ninguém.
Não há atalhos. 
Há perseverança, choro, suor, persistência e abdicação. 
Não há glamour no sofrimento (o famoso “estude enquanto eles dormem”). 
Estudei sim, e muito! Deixei de lado muitas coisas, como um churrasco que eu tive vontade de ir, um aniversário importante (até o meu próprio aniversário), uma visita à família que ficou para depois, um simples domingo preguiçoso no sofá vendo filmes com meu marido, dentre tantas outras coisas que não fiz porque estava estudando. 
Mas, também tive que aprender a descansar quando a mente pediu. É o equilíbrio que se torna a chave de tudo. Sempre. 
Enfim, esta foi minha trajetória até aqui, espero que alguém, em algum lugar, possa se identificar e persistir, sem jamais cogitar a possibilidade de desistir. 
Quem passa não é só quem nasce com um dom excepcional ou uma inteligência acima da média. Quem passa é quem não desistiu, quem lutou com as forças que tinha, que chorou muito por causa de tropeços incontáveis antes de chorar de alegria.
Sempre em frente, sempre avante!
Obrigada, de coração.

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