Em 2005, minha irmã mais velha foi aprovada no
concurso de Juiz de Direito do TJPR, eu estava então no 1º ano do Ensino Médio
e foi a primeira vez que saí do meu estado (RS), quando acompanhei alguns dias
do trabalho dela, assistindo audiências cíveis e criminais, vendo minutas de
sentenças etc. Foi ali que decidi que queria cursar Direito e que faria
concurso para a Magistratura. Em 2008, iniciei minha graduação e fui
selecionada como estagiária no Ministério Público de minha cidade natal, onde
tive oportunidade de trabalhar com uma das mais brilhantes Promotoras de
Justiça que já conheci. Lá conheci a função do MP, área de atuação e também me
apaixonei pela carreira. Assim, com dois excelentes exemplos de profissionais,
uma vez formada, passei a prestar concursos tanto de Magistratura, quanto de
Ministério Público, ambos em âmbito estadual, em virtude da minha maior
afinidade com as áreas de atuação.
Com relação aos meus estudos, sempre
gostei muito da leitura de doutrina e jurisprudência... Dessa forma, li
diversas doutrinas no início dos estudos, ao tempo que também resolvia questões
objetivas ao longo do estudo. Assim, vieram minhas primeiras provas objetivas:
em uma primeira sucessão de provas, fiquei reprovada por 1 e 2 questões do
ponto de corte. Percebi a necessidade da leitura de lei “seca”, que até então
eu não havia incluído no meu estudo. Passei a ler lei “seca” no mês que
antecedia à prova objetiva. Isso me levou à prova do TJSC de 2015 (algumas
provas marcam mais que outras), em que eu estava com 67 pontos e o corte no
olho da vaga estava em 67. Foi a primeira vez que estudei para uma 2ª fase. No
fim, houve a anulação de uma questão que eu não aproveitei, o corte subiu para
68 e eu não passei para a próxima etapa. Nessa época, eu conciliava os estudos
com o cargo de assessora de Desembargador no TJRS, cargo que me proporcionou
bastante experiência prática, mas que ao final estava consumindo mais tempo do
que o horário regular de trabalho. Nesse momento, planejei financeiramente
minha saída do TJ para que pudesse me dedicar integralmente aos estudos. Saí em
meados de 2016, fazendo-me uma promessa: não reprovarei mais por uma questão na
1ª fase.
Com essa promessa, identifiquei que
nas primeiras 50 questões de prova, que envolviam Civil, Penal, Consumidor, ECA
e Processos, acertava mais de 40 questões; sendo que nas últimas 50 questões
que envolviam Constitucional, Tributário, Administrativo etc., meu
aproveitamento era bem menor. Assim, passei a me dedicar com mais afinco a
essas matérias, mas sem deixar de revisar as demais. O resultado veio na prova
do TJPR de 2017, fui aprovada na 1ª etapa com 86 acertos, tinha encontrado o
método de aprovação que funcionava para mim e estava em uma 2ª fase. Nesta 2ª
fase, fui reprovada na prova discursiva, minhas sentenças não chegaram a ser
corrigidas; mas isso não sem gabaritar uma das questões, pois eu sabia de uma
jurisprudência antiga e controversa porque tinha estudado para aquela 2ª fase
do TJSC que acabei não fazendo.
Pois bem, continuei estudando, veio TJRS2018,
passei novamente na 1ª fase, corriji erros que tinha feito na 2ª fase do PR, e
passei na discursiva. Teria minhas sentenças corrigidas. A partir daqui comecei
a descobrir um outro aspecto dos concursos: existe um fator que está fora de
nosso controle, tu podes ter feito tudo que estava em teu alcance, mas ainda
assim não ser “o teu concurso” (costumavam me falar isso, eu não
acreditava...). Isso porque o TJRS adotou padrão fechado de respostas, sendo
que outras resoluções, ainda que viáveis, não foram consideradas. Assim, fui
aprovada na sentença criminal, mas reprovada na sentença cível.
Concomitantemente ao concurso do TJRS, também
adveio novo concurso do TJPR, no qual também logrei aprovação nas 1ª e 2ª
fases. Com relação à fase de sentenças, realizada no ano de 2019, novamente fui
aprovada na sentença criminal e reprovada na cível. A sentença cível trazia um
caso de improbidade administrativa, sentença que exige algumas formalidades
específicas e, mesmo tendo treinado inúmeras vezes, cheguei à prova sem ter
feito nenhuma desse tipo. Saí desse concurso com uma nova promessa: vou
aprofundar improbidade administrativa e não serei mais derrubada em concurso por
isso.
Pois
bem, o resultado da reprovação veio em um momento em que não havia
edital aberto, mas havia rumores de um possível concurso do MPMG. Com essa
informação, resolvi as últimas provas desse MP, atentando para o conteúdo e
doutrina cobrados. Verifiquei que a parte de difusos desse certame era cobrada
de forma mais pesada do que outros concursos de MP que já tinha feito. Assim,
resolvi ler a doutrina de difusos do Didier e Zaneti, livro que terminei no dia
em que publicado o edital do concurso. A partir daí, voltei aos estudos de 1ª
fase: lei, questões, revisão. Estava aprovada na 1ª fase e faria minha primeira
2ª fase de MP. Nesse momento, estudei doutrina pontual, analisei o perfil dos
examinadores e treinei peças e questões. Na prova, obtive pontuação máxima em
uma questão que tratava de improbidade administrativa (lembram da minha promessa?).
Logrei aprovação nessa etapa em 13º lugar.
Então veio a preparação para a prova oral.
Nessa etapa, além de manter revisões, leitura de doutrina pontual,
jurisprudência em dia e leitura de lei, outro fator, ao meu ver, é essencial:
treinamento! Tive acesso a um arquivo com as perguntas elaboradas em concursos
passados e todas as noites da semana treinava com meu namorado, bem como nos
finais de semana treinava com uma amiga, ambos aprovados nos últimos tempos.
Treinava nos moldes do padrão do MPMG, cerca de uma hora, uma hora e meia de
treinos. Até que chegou a semana anterior da prova, nesta, deixei para
descansar um pouco mais e fazer algumas revisões pontuais; na hora da prova,
queria estar de acordo com o art. 926 do CPC: íntegra, estável e coerente. Para
isso, contei muito com o meu hábito de corrida, que não abandonei mesmo em
época de pandemia (corria dentro do apartamento), pois, para mim, é um
importantíssimo repouso mental. Utilizava, inclusive, uma playlist com músicas que serviam de motivação para mim.
Um norte que sempre utilizei em todas as provas
que fiz era: “quero chegar à prova sabendo que fiz tudo que podia, tudo que
estava ao meu alcance”. E, enfim, deu certo! Chegou a prova que seria a
“minha”. Tudo encaixou. A disciplina, a persistência e a correção dos erros do
passado, me levaram ao presente!
Minha história não trata de nada excepcional de minha parte, mas tão somente de planejamento e aprendizado com os erros e experiências vividas, resiliência e resistência, afinal, concurso público não é uma corrida de 100 metros, mas, sim, uma maratona. O percurso é longo e deve se aproveitar tanto o caminho quanto a chegada!
Por fim, ter minha prova oral transmitida pelo youtube me trouxe uma experiência que eu jamais imaginava. Agradeço aos (às) concurseiros(as) que, mesmo não me conhecendo, torceram por mim e desejaram sucesso. Desejo, igualmente, sucesso a todos!
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