Trago hoje a trajetória de Daniel Macedo, defensor público da Bahia e aprovado para juiz do TJCE. Daniel começou a estudar para concursos após algum tempo de formado e foi, ao aprender com as derrotas, incrementando o seu potencial competitivo. O texto já revela a capacidade analítica do Daniel de sistematizar onde estavam os problemas e as saídas, como, aliás, tem demonstrado no seu perfil do instagram, no qual posta dicas qualificadas e específicas sobre concursos! Como bem disse o Daniel: "encerro alertando de que ao longo da sua jornada você terá muito mais incertezas do que certezas. O controle emocional é o maior desafio. O sucesso nos concursos públicos está muito mais ligado aos aspectos psicológicos que às técnicas de estudo. Cuide do que verdadeiramente importa. Te desejo sucesso!". Parabéns, Daniel!
Estudar para concursos públicos transformou a minha vida e vai transformar a sua.
Venho de uma família de classe média. Meus pais sempre me proporcionaram todas as melhores condições para estudar, mas, como a maioria dos meus pares, nunca aproveitei adequadamente. Quando estava no 1º ano de faculdade meu pai faleceu e tudo mudou. Nosso padrão de vida despencou e a vida da minha família virou de ponta cabeça. Me formei aos trancos e barrancos em 2005 e acabei não trabalhando na área jurídica.
Em 2011, insatisfeito na iniciativa privada, resolvi começar a estudar. Não tinha pretensão alguma, senão arrumar um bom “emprego” que me proporcionasse remuneração digna e alguma qualidade de vida. Me faltava tempo e dinheiro para cursos e livros e após 5 anos de formado já não lembrava o que havia visto na faculdade. Comecei do zero, literalmente. Estudava de forma muito amadora por apostilas de banca de revista e por aulas no Youtube. Não obtive aprovação alguma assim, mas foi como tudo começou.
Naquele momento, o cargo de Analista Judiciário era o alvo dos meus sonhos. Foquei na carreira, mas prestei concurso para diversos cargos com editais correlatos. De 2011 a 2015 eu fui aprovado nos concursos de técnico do TRF2, técnico e analista do TRT/RJ, técnico do TST, técnico e analista do TJ/RJ, advogado da DATAPREV, advogado do INCAPER/ES, analista da SEGER/ES, escrivão da PC/ES e técnico da AL/ES. Posteriormente, fui nomeado na maioria, mas tomei posse em poucos.
Faço um aparte nesse ponto. Fiquei 5 anos focado em provas de Tribunais por pura FALTA DE CONFIANÇA. Mesmo com diversos resultados positivos, achava que não tinha capacidade para ser aprovado nas carreiras de ponta. Ser defensor ou juiz não fazia parte nem dos meus melhores sonhos. Pensamento limitante e tolo que me custou muito tempo, energia e que poderia ter custado o cargo que ocupo hoje.
Em 2016, já como servidor da Justiça Federal, decidi que queria dar um passo adiante e resolvi estudar para as carreiras jurídicas estaduais (Magistratura, Defensoria e MP). Minha ideia era, naquele ano, formar a tão sonhada base jurídica sólida, a fim de ficar competitivo para os concursos do ano seguinte.
Ainda no 1º semestre de 2016 foram publicados os editais das Defensorias Públicas do ES e da BA. Nessa época eu ainda estava no 1º ciclo do meu edital base e havia estudado menos de 30% do conteúdo programático, mas achei que seriam excelentes simulados e me inscrevi. Fui aprovado na 1ª fase da DPE/BA e todos os meus planos foram por água abaixo, graças a Deus.
Faço um novo aparte para registrar que: 1) na época eu não sabia, mas a tal base jurídica não seria formada em 2016, já estava sendo forjada desde 2011 enquanto eu estudava e me preparava para os concursos de tribunais; 2) os estudos para tribunais me deram um verdadeiro domínio da Lei Seca e devo a minha aprovação na 1ª fase da DPE/BA a isso; 3) ao contrário do que eu pensava na época, estava bem preparado e se tivesse dado voz à minha falta de confiança, hoje eu não seria Defensor Público.
As provas de 2ª fase de Defensoria Pública eram um universo desconhecido para mim. Tive 2 meses para revisar as matérias tradicionais do Direito (algumas das quais sequer havia estudado), além de aprender Direitos Humanos, Filosofia, Sociologia, Criminologia e as peças práticas (cível e penal). Achei que seria impossível, mas consegui boas notas e avancei no concurso.
Finalmente, estava na temida Prova Oral. Fiquei a um só tempo feliz e desesperado (misto de sonho com pesadelo). Na minha cabeça, dali eu não passaria. Tinha dado sorte até então, mas não teria condições de enganar a banca sendo arguido oralmente sobre qualquer ponto do edital. Ainda mais com os temas sendo sorteados na hora da prova, sem o tradicional sorteio com 24 horas de antecedência.
Para piorar, tive uma crise de hérnia de disco que me deixou por mais de 15 dias hospitalizado, medicado e completamente apagado. Saindo do “coma”, tive praticamente 1 mês para estudar e treinar para a fase Oral. Foi um caos. O desânimo bateu pesado nessa época. Me sentia humilhado nos treinos e o emocional tentava me tirar do jogo todos os dias. Graças a Deus eu venci e hoje sou Defensor Público.
Mais um aparte. Tenha muito cuidado com a SÍNDROME DO IMPOSTOR. Se eu tivesse deixado isso crescer demais em mim, sequer teria vindo à Bahia fazer a prova e hoje não seria Defensor.
Passada a prova oral em 02/2017, finalmente teria um “ano sabático” para formar a minha tão sonhada base. Ledo engano. Já no 1º semestre fiz as provas do TJ/PR, TJ/SC e TJ/SP. Reprovei nos dois primeiros, mas fiz 85 pontos no TJ/SP, ficando na ponta da lista de classificação. Estava numa 2ª fase de magistratura e era a magistratura de SP, Estado em que meu único irmão morava (e mora).
Juntei tudo que tinha de férias e me dediquei de maneira insana para as provas da 2ª fase. Acordava as 4 horas da manhã e não fazia outra coisa senão estudar. Reprovei, mas saí muito forte desse concurso. Peguei a “liturgia” da 2ª fase de magistratura e sabia que estaria muito mais competitivo na próxima oportunidade.
Novo aparte. ERRO é INFORMAÇÃO e PROVA é DIAGNÓSTICO. Os fracassos e erros cometidos no PR e em SC me deram o diagnóstico preciso para SP. Estudei cada erro, identifiquei os pontos fracos, foquei nas disciplinas que estavam me puxando para baixo, revisei mais uma vez meu material de lei seca, resolvi um número absurdo de questões e simulados. Fiz o dever de casa e com isso alcancei os 85 pontos em SP. Da mesma forma, os detalhes da reprovação na 2ª fase de SP foram fundamentais para a aprovação (futura) no CE.
Comecei o ano de 2018 com a aprovação na 1ª fase da Magistratura do CE. Posteriormente, me saí muito bem nas provas de 2ª fase chegando a ficar entre os 30 primeiros na lista de classificação. Estava dentro das vagas do edital (50) e éramos cerca de 80 candidatos classificados para um Tribunal com mais de 80 cargos vagos.
Aqui cometi um erro gravíssimo: não recorri. A banca examinadora deu provimento em massa aos recursos e todos ganharam pontos (eu não). Caí na classificação (52) e saí das vagas do edital. A lista de aprovados aumentou para 170 candidatos, nº maior que os cargos vagos.
Mais um aparte. RECURSO é FASE DO CONCURSO. Jamais perca a oportunidade de ganhar 1 décimo que seja, pois isso pode ser determinante no momento da nomeação e até para antiguidade na carreira.
Já ia começar a minha preparação para a prova oral quando surgiu um elemento novo que quase mudou o rumo da minha história. Exatas 3 semanas após as provas da 2ª fase do CE, ocorreu a 1ª fase da magistratura federal do TRF2. Me inscrevi nesse concurso por pura pressão de amigos e familiares, pois o eixo de estudos era muito diferente do meu edital base. Novamente o improvável aconteceu e eu passei.
Curiosamente, pela 1ª vez na minha vida tive uma CRISE DE ANSIEDADE. Estudava feito um louco e nunca era suficiente, afinal, não estava revisando, como de costume. Tudo era novo. O sentimento de impotência foi tão grande que me vi mergulhado em pensamentos como “estudar não é pra mim”, “vou aceitar o que consegui até aqui”, “vou parar de estudar”, “chega dessa vida insana de concurso”, etc.
Como em todos os momentos difíceis da minha vida, intensifiquei minhas orações diárias e Deus, com toda a Sua misericórdia, afastou os pensamentos ruins e me ajudou a retomar minha paz interior. Segui com sanidade nos estudos e até me saí melhor que esperava na 2ª fase, mas reprovei. Graças a Deus, sem “sequelas” psicológicas, segui com a preparação para a Prova Oral do CE, aquela que seria a última prova da minha vida.
Novo aparte. Não menospreze os PROBLEMAS PSICOLÓGICOS que eventualmente surgirem ao longo da sua preparação. A maioria dos aprovados em maior ou menor escala já passou por dificuldades dessa ordem em algum momento. Ataque o problema logo nos primeiros sintomas, não deixe crescer.
Enfim, a Fase Oral do CE. Prova extremamente peculiar, realizada pelo próprio CESPE, com nº enorme de candidatos, tempo exíguo de prova (15min), nº reduzidíssimo de questões (3), perguntas escritas, espelho fechado, examinadores profissionais etc. Errar uma questão era sacramentar a reprovação.
Graças a Deus, mesmo com uma pergunta teórica cuja resposta não estava em qualquer ponto do meu material de estudos, consegui a aprovação.
Últimos apartes. 1) Na minha opinião o segredo emocional da prova oral é a convicção de que saber tudo é impossível. A chave psicológica, portanto, está na certeza (inversa) de que virá uma pergunta que você não sabe, mas que construirá uma resposta possível e será aprovado. Isso é libertador. 2) Penso que a prova oral é uma qualificada “entrevista de emprego”. A banca precisa ver ali um defensor, um juiz, um promotor, mas sobretudo um ser humano real. Cuidado com o excesso de pose e com a robotização da fala.
Encerro alertando de que ao longo da sua jornada você terá muito mais incertezas do que certezas. O controle emocional é o maior desafio. O sucesso nos concursos públicos está muito mais ligado aos aspectos psicológicos que às técnicas de estudo. Cuide do que verdadeiramente importa. Te desejo sucesso!
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