Trajetória nos concursos - Por Mayara Lippel

By | maio 02, 2020 Leave a Comment

Trago hoje a trajetória de Mayara Lippel, aprovada para promotora do MPSP (Concurso 93, finalizado em 2020). O texto da Mayara evidencia como o sentimento de fraude muitas vezes nos acompanha, desacreditando cada iniciativa nossa. A cada êxito temos um fantasma do lado, apontando que os outros são melhores e que somos mera farsa. A Mayara conviveu com isso, mas não se permitiu paralisar! Como bem destacou, "eu aprendi muito, não só a letra da lei ou a jurisprudência, mas acima de tudo que não se pode fraquejar diante de uma dificuldade, que não se pode entregar os pontos quando se trata de uma meta de vida. As tristezas, os surtos, o sentimento de que somos “fraudes” vão estar sempre ali. Mas não podemos desistir. Cabe a nós  escrever nossa própria história, acreditar e finalmente alcançar. A hora de cada um de nós chega!". Parabéns e muito obrigado pelas palavras, Mayara!

Estou muito feliz em contar minha trajetória nos concursos neste espaço do Júlio. Lembro de que quando lia sobre a vida de “gente como a gente” que havia sido aprovada, me dava um gás e muita energia para seguir em frente. Espero também poder contribuir de alguma forma!

Desde pequena eu sonhava em ser juíza ou promotora de justiça. No segundo ano do colegial eu já comecei a estudar para o vestibular porque minha mãe, sozinha e viúva, não teria condições de bancar os meus estudos em uma faculdade particular. Em 2011, depois de muitos estudos, eu fui aprovada na Sanfran (USP).

Durante a faculdade, contudo, eu era muito tímida, achava que sabia menos que os demais e não tinha sequer coragem de levantar a mão para tirar dúvida. Eu me esforçava, ia nas aulas (principalmente de penal e processo penal, que eu gostava e estagiava na área), mas sempre com aquele “medo” de não ser tão boa quanto os demais. Foi assim até o final, em 2015.

No último ano da faculdade eu estudei muito e consegui ser aprovada no concurso de escrevente do TJSP. Foi uma imensa vitória, porque sabia que minha mãe não teria como me “bancar” por alguns anos até que eu fosse aprovada. Logo após me formar, assumi a função de assistente judiciário com um juiz na área criminal.

No ano de 2016, passei a ver vídeo aulas de  cursinho. Assistia depois do trabalho e anotava, mas acredito que não me dediquei da forma necessária nesse momento. Ainda estava um pouco “perdida”.

Em 2017, depois de prestar o TJSP e alcançar uma pontuação mediana, minha ficha “caiu” e eu percebi que era hora de efetivamente colocar em prática o plano que eu havia traçado desde pequena. Eu passei então a ler alguns resumos de colegas, me aprofundei em alguns pontos que eu tinha dificuldade, comprei alguns livros para consultar quando tivesse dúvida e o principal: foquei na lei seca. Também acompanhava o - santo- Márcio do Dizer o Direito. Em alguns meses, quando fui prestar MPSP, tive uma surpresa: fiquei uns três pontos abaixo do corte. E isso acabou me incentivando a “ir mais fundo”.

Foi nesse período que me uni a alguns amigos mais próximos que também estudavam. Formamos um grupo de estudos no WhatsApp no qual compartilhávamos dicas, macetes, questões (e até frustrações de vez em quando). Também foi nesse momento que eu resolvi me “fechar” para o mundo lá fora. Resolvi que minha vida se resumiria aos estudos, ao trabalho e a essas trocas com os colegas que estavam “no mesmo barco”. Me afastei de muitos amigos, da minha família e deixei de lado até mesmo alguns eventos importantes.

Eu estudava umas 5 horas nos dias de semana e, nos finais de semana, umas 7 horas. Sem descanso. Mantive esse ritmo durante quase um ano. Nessa fase eu “construí” uma base. Cheguei a dividir meu Vade Mecum em vários “livros” menores com espiral para poder manusear mais facilmente. Lia a lei e fazia fichas dos cadernos/ livros/informativos. A minha intenção era sempre “condensar” toda a matéria dentro do meu vade mecum (que ficou literalmente uma bagunça, mas na qual eu me encontrava).

Em determinado momento, entretanto, eu percebi que estava esgotada e que era melhor adotar alguma estratégia para descansar um pouco e ao mesmo tempo evoluir nos estudos (eu prestava provas e ficava próxima ao corte, mas não era suficiente).

Foi aí que uma amiga muito próxima me deu duas dicas brilhantes: descansar um dia na semana e resolver questões antes de estudar o tema para memorizar melhor. E num cursinho de reta final também me deram outra dica valiosa: ler muito as súmulas do STF e do STJ (passei a ler todos os dias, uma matéria por dia). Assim eu fiz e consegui finalmente ser aprovada para a segunda fase do TJSP.

Ocorre que, naquele momento - talvez porque não estivesse preparada - deixei o medo vencer. Fiquei muito assustada com a concorrência (de novo achava que todo mundo ali era melhor que eu) e isso atrapalhou muito meu rendimento. Eu estudava 8,9 horas por dia durante o recesso e as férias que tirei. Passei o ano novo sozinha estudando. Não fui na formatura da minha irmã. Mesmo assim não consegui: reprovei por 0,25.

Mas depois desse “tombo” eu sabia que o edital do MPSP logo sairia e resolvi me dedicar ao máximo. Não tinha tempo para lamentar a derrota. Dessa vez, contudo, foi diferente. Com a ajuda de um grande amigo (que hoje é meu namorado), resolvi colocar no papel quantos dias precisaria para “rodar” o edital lendo leis, questões, jurisprudência e caderno. E segui à risca o plano. Estudava umas 4,5 horas por dia durante a semana, descansava às sextas-feiras e estudava umas 5,6 horas nos finais de semana. E no final deu certo. Aproveitei algumas anulações e passei “raspando” para a segunda fase.

Depois de fazer a segunda fase, continuei estudando para outros concursos (MPGO e MPMG) porque não sabia se conseguiria ser aprovada. E quando fui aprovada para o exame oral, experimentei algumas horas de felicidade mas, logo em seguida, veio o desespero. Achava que não daria tempo, que eu não “daria conta” de uma prova oral, onde estaria sendo testada por pessoas que eu admirava e que, ao mesmo tempo, temia tanto.

Mesmo com todo esse medo, eu “dei o sangue” e, de novo, com a ajuda do meu namorado, me organizei, tirei férias do trabalho e estudei como nunca havia estudado. Umas 10 horas por dia, só parando para descansar no Natal e após as 20h do dia 31/12. Depois de muito treino, com a ajuda de amigos e também de cursinhos eu alcancei o meu sonho: fui aprovada no MPSP. Foi a melhor sensação do mundo.

Eu gostaria de registrar que dentre os cursos que fiz, o Júlio foi um dos que mais me ajudou no dia do exame oral. Ele me passou muita  segurança para falar de forma clara e coesa, sem aquela mecanização que alguns incentivam. Foi, sem dúvida, um diferencial na minha preparação.

Agora, relembrando todo esse período, eu posso dizer que apesar de ter me “fechado” para o mundo lá fora, eu não estive sozinha. Tive ajuda de colegas que estavam na mesma situação, de amigos do trabalho e também da minha família, que aceitou o meu “sumiço” por um determinado tempo. Foi uma batalha coletiva!

Gostaria ainda de dizer que em vários momentos fui tomada pelo medo, pela incerteza e principalmente pela insegurança. Eu tinha medo do meu material, da minha capacidade de memorização, da minha dificuldade em direito civil e empresarial... Vivi muitas angústias. Mas o mais importante foi saber lidar com elas, não deixar que elas me paralisassem e seguir em frente, em uma luta constante, que com certeza valeu a pena. Eu percebo que o mais importante nesse caminho foi a persistência e a fé de que uma hora daria certo.

Eu aprendi muito, não só a letra da lei ou a jurisprudência, mas acima de tudo que não se pode fraquejar diante de uma dificuldade, que não se pode entregar os pontos quando se trata de uma meta de vida. As tristezas, os surtos, o sentimento de que somos “fraudes” vão estar sempre ali. Mas não podemos desistir. Cabe a nós  escrever nossa própria história, acreditar e finalmente alcançar. A hora de cada um de nós chega!

Postagem mais recente Postagem mais antiga Página inicial

0 Comments: