Trago hoje a emocionante trajetória de Andréia Tonin, promotora do MPSC e que tem dado excelentes dicas no @historiasdeconcurso! Andréia é uma daquelas aprovadas que marca uma geração de concurseiros. Mesmo sem a conhecer pessoalmente muitos sabem quem é a "Andréia"! Solidária, humana e intensa! E a maturidade da Andréia é tão grande que nos traz essa leitura de evolução pessoal: o estudo para concursos - jornada longa, competitiva e cansativa - é quase uma prova psicológica. Engole-se o choro, adia-se o sonho, questiona-se a própria capacidade... e Andréia teve que lidar, já quando aprovada para a fase oral do MPSC, MPSP e TJBA, com a perda do namorado/noivo! Tem uma frase da Andréia que acho fantástica: sorte a nossa quando a nossa única preocupação é o concurso público! Parabéns, Andréia! Continue inspirando o mundo... e o MPSC tem enorme (!!!) sorte de ter você nos quadros! Aproveito novamente para recomendar o @historiasdeconcurso, perfil em que Andréia tem fornecido detalhes de sua trajetória e excelentes insights sobre concursos!
ESPERANÇA. Tendo em vista o momento em que nos encontramos, decidi resumir esse depoimento à narrativa do concurso no qual eu passei, o MPSC, porque entendo que isso pode trazer um sopro de esperança aos amigos concurseiros.
Nunca acreditei no clichê de que “é o concurso que escolhe você”. Para mim sempre pareceu conto de fadas. Sou pragmática e esse conceito desafiava minha necessidade de “ter tudo sob controle”. A questão era, “se não sou eu quem escolho, como sei quando isso vai ter fim?”. Então eu realmente não acreditava nessa “conversinha”.
Julho de 2019 (5 anos e 5 meses de estudo). Pela primeira vez na minha caminhada eu realmente estava CANSADA. Não havia luz no fim do túnel. Aguardava resultado das sentenças do TJBA, suspenso pelo CNJ. Não havia provas de magis em Estados de minha preferência marcadas para segundo semestre. Eu havia tomado uma reprovação doída na sentença cível do TJRS, no qual havia empregado todo o meu esforço e dedicação. Não havia nenhuma perspectiva de que o caminho de concursos iria terminar em breve. Passar mais 1-2-3 anos estudando me causava arrepios.
Nunca havia feito provas para MP (fiz no RS sem direcionar estudos, mas viajar, nunca). Ante a escassez de provas de magis, decidi arriscar. Estava precisando de novas motivações. MPSC em 14/07 e MPSP em 21/07. Direcionei estudos para o segundo já que o edital era mais parecido com o da magis.
Sai da prova objetiva do MPSC dizendo às minhas amigas “a próxima vez que eu disser que venho fazer essa prova, vocês me internem porque eu enlouqueci”. 200 assertivas de manhã. 200 de tarde. Matérias como português, criminologia, penal militar. Fui corrigir, 160 acertos de manhã, 160 acertos de tarde. Recorrigi várias vezes, não acreditava. Estava na segunda fase (do MPSP também).
Segunda fase MPSC foi simplesmente a prova MAIS DIFÍCIL que eu já vi na vida. Quem estiver com tempo, dá uma olhadinha lá (só para ler já gasta muito tempo). Eu nunca havia feito uma peça de MP na vida. Mas treinei à exaustão a habilidade discursiva. Desde 2017 utilizada minha capacidade de organização para aprimorar minhas respostas discursivas e com isso ganhei excelência de escrita e de gestão de tempo (fator preponderante nesse tipo de prova).
O gabarito apontou que era para fazer 2 denúncias, isso em 4 horas (algo inédito no MPSC, quase ninguém fez). E aqui a “sorte” me ajudou. Li e montei meu esquema dos fatos em 1h15min. Eu fiz a primeira denúncia em 2h15min. Ia fazer um ofício para o PGJ quanto à outra parte nos 30min que eu tinha. Mas daí pensei “o trabalho de fazer um ofício é quase o mesmo de uma denúncia. Azar, vou arriscar”. E foi essa fração de segundos que me fez aprovar naquela prova que só passaram 13 pessoas inicialmente.
E o inimaginável, não só passei na prova mais difícil que eu vi na vida, como passei em PRIMEIRO LUGAR, tendo feito uma ótima pontuação na parte cível. Chorei litros no dia do resultado. Parecia que o universo estava respondendo a minha pergunta de “o que mais eu preciso fazer?”, era como se me dissesse, “você não havia passado ainda porque não era o momento/concurso certo, agora ficará tudo bem”.
Em novembro de 2019 eu estava em 3 provas orais (MPSC, MPSP, TJBA). Nunca havia feito prova oral, mas pelas minhas características pessoais, sabia que falar não seria um problema. Mas não importa, o pânico bate. Você se sente um impostor, parece que não sabe nada, trava para responder as coisas mais simples e sempre tem uma bola de ansiedade no estômago antes de cada treino. Comecei a treinar todos os dias com colegas e com um fonoaudiólogo. Sempre dava vontade de sair correndo, mas ficava, sabia que treinar era fundamental.
Fui fazer o curso do Júlio e foi LIBERTADOR. Saber que eu podia ser “eu mesma”, que não precisava mudar meu jeito de falar e de pensar mudou minha forma de encarar a prova. Sai do curso muito mais confiante. Considero que fazer o curso do Júlio é requisito INDISPENSÁVEL, para prova e para vida.
27/12. Cronograma organizadinho (a rainha das planilhas), treinando todos os dias com colegas e/ou professor. Resumos prontos. Ainda achando que os professores exageravam quando diziam que eu “brigaria pelas primeiras colocações” na prova oral, mas sabia que a probabilidade de eu não passar (em SC, pelo cenário e pela minha preparação) era ínfima. Tinha um “pênalti para bater sem goleiro”. Foi então que o mundo simplesmente virou de cabeça para baixo e eu tinha “um chute do meio do campo com 11 jogadores à frente” para enfrentar.
Meu namorado/noivo, a pessoa que mais me apoiava em todo esse processo de concurso, faleceu num acidente de carro a 60km/h, numa pista dupla, às 6h da manhã, indo trabalhar na plantação de morangos orgânicos que tínhamos juntos estabelecido em 2019. A vida perdeu por completo o sentido. Os “problemas” de concurso se transformaram em pó. Por isso que sempre digo, agradeça quando o único “problema” da tua vida for o concurso.
Pois bem, meu primeiro ímpeto: desistir de tudo. Mas eu não tinha esse direito. Não era mais “meu sonho”, era “nosso sonho”. Nos 45 dias seguintes eu fiz 2 inscrições definitivas (10/01 e 11/01), 1 psicotécnico (12/01), 2 provas orais (21/01 e 11/02) e 1 prova de Tribuna (10/02).
Obviamente eu não conseguia estudar. Mas todos os dias, eu levantei da cama e estudei “o que deu”. Inúmeras vezes com lágrimas nos olhos. Minha concentração reduzida à nada. Mas eu fiz o que era possível, naquele momento. A arte desenvolvida nos últimos anos de “fazer o que tem que ser feito” foi realmente indispensável.
Foi aí que eu percebi como os 6 anos de resignação e aprendizado construíram uma INTELIGÊNCIA EMOCIONAL que me permitiu passar por tudo isso. O processo de concurso público ensina muito mais do que direito, ele ensina sobre você e sobre a vida, basta você prestar atenção. Ademais, arrisco dizer que, às vezes, as lições pessoais que a gente teima em não aprender são as que faltam, não as jurídicas.
Fui aprovada no MPSC, com a maior nota de Tribuna e a 4ª nota da oral, finalizando em 2º lugar o concurso após os títulos. Desisti do MPSP para não correr o risco de prejudicar alguém (meu ego de saber se seria ou não aprovada jamais se sobreporia sobre a vida/sonho de outra pessoa).
Março de 2020. Posse marcada para 27/03 no MPSC, protocolando desistência do MPSP, decidindo se faço ou não oral do TJBA. Se você me narrasse essa condição 8 meses antes, eu com certeza diria que você estava louco. Há 8 meses eu não via qualquer luz no fim do túnel, hoje estou aqui, escrevendo depoimento de aprovada. Amanhã, pode ser você!
No MPSC a sorte andou a meu favor. Mas em muitos concursos antes, ela andou contra. Trata-se do “intangível” que a gente não controla. E exatamente porque não está a nosso alcance, não devemos empregar a nossa energia.
Essa foi uma das principais lições desse caminho: buscar sempre direcionar nossa preocupação para o que depende de nós (o estudo, a organização, o planejamento, as metas). Se vai ou não dar certo, não depende exatamente só de você, e por isso não vale a energia empregada.
Acredite na sorte, mas não em milagres. Não adianta ficar “fingindo” estudo e esperando que o universo magicamente te presentei com a aprovação. Isso não vai acontecer! Quanto mais você estuda, menor é a álea que depende da “sorte”. Atinja a excelência nos estudos, e não só neles, preste atenção no caminho. Quais são as lições de ordem pessoal que você aprendeu já? Quais são aquelas que você ainda não entendeu?
Eu sou muito grata ao universo por ter passado por esse caminho. A Andréia de 2014, que acreditava que passaria muito rápido, seria uma péssima profissional. A Andréia de 2020 vai carregar toda a inteligência emocional e o conhecimento jurídico acumulados para exercer a profissão de Promotora de Justiça (em relação à qual me apaixonei por completo) com muito mais qualidade.
Sei que para quem está no caminho, sem luz no fim do túnel à vista, não é exatamente o que quer ouvir. Mas aprecie a vista do percurso.
O tempo é apenas uma forma de medir. O aprendizado e a evolução como ser humano são o que realmente importa.
Tenha orgulho de ter escolhido se submeter a um processo tão intenso de modificação. Tenha paciência. Pare para ressignificar o que a vida está querendo te mostrar. O “teu concurso” vai te escolher, e pode ser daqui a 8 meses, ou menos.
Excelente, linda história.
ResponderExcluirParabéns pelo conteúdo.