Trajetória nos concursos - Pedro Monnerat

By | maio 11, 2019 1 comment


Hoje trago a trajetória do Pedro, que ficou em 1º em todas as fases da PGE SP. Muitos acham que os primeiros colocados têm absoluta certeza da aprovação, com caminho sempre seguro e linear. Na verdade, existem, sim, a insegurança e a adaptação. Li os posts do Pedro, me identifiquei muito e fiz o convite - que ele aceitou gentilmente - para escrever aqui. O relato evidencia que ele seguia a intuição e executava. Confiava nas percepções até então formuladas e partia para a ação. Não dando certo, criava novo rumo. E fez isso algumas vezes. Uma invejável habilidade de diagnóstico e reação. Saiu, por diversas vezes, da zona de conforto, como fez ao desistir do curso de Engenharia. Como bem disse o Pedro, "o acerto nada mais é do que um erro bem aproveitado". Ele viveu cada opção e resultado com muita intensidade, o que demonstra a capacidade dele de mergulhar em tudo o que faz: desde o blog sobre programação cultural no RJ à intensidade nos estudos para cada concurso, sem, em nenhum momento, se limitar àquilo que o mercado dava como pronto e acabado. Parabéns e muito obrigado mesmo, Pedro! Uma lição de vida!


A gente nunca sabe ao certo quanto voltar no tempo para contar a história de um resultado. Por trás de qualquer conquista tem sempre uma vida de coisas que nos tornaram quem somos e contribuíram em nosso caminho, seja com erros ou necessários desvios, seja com pequenos acertos que vão se acumulando com a persistência.

Posso dizer que errei bastante no meu caminho, no sentido de errar mesmo, mas também no sentido de vagar por aí, e aos poucos fui percebendo que o acerto nada mais é do que um erro bem aproveitado. Hoje, vou contar um pouco de uma parte da minha história que levou até o resultado que tanto me surpreendeu (e ainda surpreende) na PGE/SP.

Em 2005, entrei na faculdade de engenharia ambiental, da qual desistiria dois anos depois. Em 2007, sem saber ao certo o que queria (sabia apenas que queria humanas, mas que precisaria de uma profissão para me sustentar), marquei “Direito” no vestibular.

Após um começo intenso de estudos nas matérias mais filosóficas (a UFF começava assim), vivi um longo período mais boêmio do que estudioso. Mantinha na época um blog com dicas da programação cultural do Rio de Janeiro que chegou a ter mais de 15 mil seguidores. Para vocês não pensarem que isso não pode ser verdade, acho que ainda é possível ver a página no facebook (Rio Cult).

No meio dessa boemia, algo me dizia que aquilo não era sustentável e que em breve eu precisaria daquela profissão que me motivara a marcar “Direito” no vestibular. Estagiava nessa época na PGE/RJ e decidi que queria ser Procurador, mas não de qualquer lugar, eu queria ser Procurador do Estado do Rio de Janeiro.

Essa decisão me custaria alguns anos de estudos muito “errados”. Tentando me especializar na banca do concurso, eu lia os artigos do Tepedino antes de ter lido o Código Civil. Lia os pareceres do Barroso sem nunca (mesmo) ter lido a Constituição Federal toda.

Paralelamente, comprei um curso especializado aqui do Rio e achei que, se anotasse tudo que os professores falavam, um dia teria um caderno que me faria passar no concurso da PGE/RJ. Eu não sabia o que era importante, nem sabia o que era pura explicação da letra da lei. Resultado: levava 4 horas para assistir 2 horas de aula e, depois de muito esforço perdido e algumas questões pessoais difíceis, acabei fazendo apenas 30% do curso em um ano e ficando quase mais um ano parado sem estudar.

Decidi então que nunca mais compraria um curso de videoaulas. Mal sabia eu que no futuro as videoaulas seriam a minha principal fonte de estudo da vertente “compreensão”, inclusive para as provas subjetiva e oral. Eu ainda não tinha descoberto a possibilidade de fazer intensivos quando necessário, acelerando até 2-2,5x, o que me permitiria nas mesmas 4 horas de antes, assistir a mais de 8 horas de aula.

Mas, um dia, cheguei na saudável conclusão de que o Programa de Residência da PGE/RJ seria um passo razoável no caminho até a carreira de Procurador. Sem edital aberto, ficava na biblioteca fichando livros vagarosamente. Afinal, “eu precisaria de no mínimo uns dois anos de leituras e mais leituras para começar a pensar em passar [para Procurador]” - um pensamento que significava apenas uma fuga de enfrentar o desafio, uma verdadeira autoenganação.

Mas eis que, após uns 6 meses desses fichamentos, quando completei 30 anos, saiu o edital da residência e uma consciência inabalável veio à tona: “preciso passar nessa prova”. Olhei as questões passadas e percebi que estava fazendo tudo errado. Meus resumos eram tão detalhados que em nada me ajudavam na concisão necessária nas 15 linhas disponíveis para a resposta. E a sensação era de que eu não sabia responder nenhuma questão. Nenhuma!

A partir dessa consciência, transformei totalmente os meus estudos em um treino diário de responder ao máximo de questões discursivas sobre todos os temas do edital em exatas 15 linhas. Foram cerca de 2 meses assim. Uma urgência bateu em mim e tudo que eu pensava era no resultado. Comecei a pensar em termos de “15 linhas” razoáveis e fundamentadas sobre qualquer tema e não mais em termos de saber ou não saber algo.
Com isso, consegui um resultado maravilhoso, fiquei em 3º lugar na prova.

Depois da prova da residência, me inscrevi em um concurso pequeno de Procurador de Paraty e comecei a devorar lei seca pela primeira vez. Resultado: fiquei em torno da posição 250. Era tão inexperiente que a decepção me fez parar cerca de 3 meses sem estudar.

Após a pausa, comecei a residência e fui fazer a prova de Procurador da ALERJ (que eu considerava absolutamente impossível de passar e fui fazer totalmente sem acreditar). Então veio uma surpresa: passei para a segunda fase! Acho que se não fosse uma amiga da residência, a Bia, eu talvez nem tivesse visto que tinha passado, pois achava que mesmo tendo tirado uma boa nota, ainda era muito pouco para um concurso impossível como aquele. A segunda fase era divida em três provas, num período de quase 6 meses. Ainda sem rotina de estudo profissional e sem valorizar a lei seca, fui passando em todas, mas sempre abaixo dos melhores. Eu ainda não queria acreditar que era só ter citado o artigo de lei ou a jurisprudência do espelho para ganhar todos os pontos. Seguia achando que tinha que ter algum mistério por trás da nota.

Não tirei o suficiente para chegar na prova oral, mas decidi que, a partir dali, acontecesse o que acontecesse eu ia ser o primeiro a chegar na biblioteca e ia descobrir tudo que fosse necessário para alcançar o resultado. E ia estudar para onde tivesse mais vagas. Passei a mudar tudo que não me fizesse ir para a frente. Se não gostava de um professor, buscava outro para substituir. Se o curso reservava apenas uma carga horária ínfima para uma matéria que estava caindo com profundidade, eu procurava aulas de outras carreiras. Se era para saber todas as Súmulas e OJs do TST eu lia quantas vezes fossem necessárias. Comecei a levar a sério a aceleração das aulas. Comecei a ler as leis do início ao fim e a confirmar a qualidade da leitura com questões específicas de cada tópico do edital. Passei a revisar os informativos em áudio diversas vezes. Virei um constante investigador dos meus próprios pontos fracos e, logo que identificava um, colocava-o como prioridade do dia seguinte.

Foram cerca de 1 ano e meio de estudos nesse ritmo, todos, mas todos os dias até a aprovação na prova oral. Quando saiu a notícia da autorização da PGE/SP, as 100 vagas brilharam nos meus olhos. Queria uma, mas apesar de ainda achar que seria quase impossível, me entreguei de corpo e alma com essa atitude totalmente focada no resultado. Em cada feriado, em cada jogo do Brasil eu buscava chegar um pouco mais perto do meu sonho. Tudo isso com muito apoio da minha namorada que até hoje compartilha os projetos comigo. Ela estudava para o mestrado e eu para o concurso. Agora ela está quase defendendo sua tese e vamos juntos para São Paulo, ansiosos pelas primeiras férias que ainda nem tivemos. Tudo valeu a pena e desejo muita força, foco e fé para quem ainda está nessa jornada!

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